UMA MENINA CHAMADA FÉ

Tem feito dias lindos de verão, onde o sol aproveita pra se esconder depois das 21 horas. O tempo se estica, e dá para se fazer tanta coisa em um só dia. 
Nova Iorque, tem vivido um verão com temperaturas mais próximas ao outono, o que a torna ainda mais agradável.
Hoje, logo pela manhã escolhi me exercitar na piscina, em vez de enfrentar a esteira. Nadei por quase uma hora, e depois me deliciei tomando uma sauna.
De fato tirei a manhã para mim, para não fazer nada. Só ficar de papo pro ar. Ah, e como isso é bom, relaxar assim, faz muito bem para o corpo e para alma.

Quando terminei, e me preparava para subir para o meu apartamento. Encontro com o Carlos, um dos porteiros aqui do edifício. Uma pessoa com A maiúsculo, como se costuma dizer.
Todos os que trabalham aqui no prédio são muito educados, e pacientes, tentam entender o meu inglês macarronico.
Mas, o Carlos, ah, o Carlos é de longe o mais simpático.
Fico pensando:  será porque ele é mineiro, e como todo bom mineiro, o que não lhe falta é simpática e boa prosa?

Há duas semanas atrás, quando cheguei aqui, estranhei não encontrá-lo, no seu turno na portaria.
Hoje, descobri que ele estava de férias, e enquanto conversávamos, me contou, que há um mês e meio, nasceu sua quarta filha.
Ele me mostrou todo orgulhoso e feliz, as fotos dela, em seu celular. Uma linda e gorducha menininha de cabelos pretos, e olhos da cor de jabuticaba. Perguntei o nome dela, e ele respondeu: FÉ.
Fiquei apaixonada pelo nome, tão significativo. 

Carlos, é alguém de muita fé, chegou em Nova Iorque, com a idade de 13 anos, sem falar uma palavra em inglês, veio visitar sua mãe que já morava aqui, há 5 anos. 
E desde então, ficou. Foi aprendendo a amar a cidade, a dominar o idioma, casou-se com uma bonita e simpática mexicana. Comprou uma casa em New Jersey, onde vive muito bem, com sua esposa, e seus 4 filhos.

Batemos um longo papo, como sempre, quando o encontro.
Ao parabenizá-lo, pela bela família que formou aqui nos EUA, ele me respondeu: "Sou muito grato a essa cidade de Nova Iorque. Aqui tive a oportunidade de crescer, de poder desfrutar de uma boa vida, conhecer minha esposa, e criar meus 4 filhos, que desejo ainda venham a ser 5 ou 6.

Eu, só pude lhe dizer, que o nome de sua quarta filha, tinha tudo a ver com ele, um homem cheio de fé, de coragem e alegria de viver. Por isso, ele tinha mesmo que ter uma linda menininha chamada FÉ.
Ele abriu um sorriso largo, e falou com sotaque mineiro, que ainda tem quando fala português: "Uai, a vida foi e é muito boa comigo, só tenho que  agradecer".

(Imagem: Lenapena- Williamsburg)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 07/08/2013
Reeditado em 08/08/2013
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