PRAZER E GOZO

Nos relacionamentos, a amizade é o que sobra após a idade dos desejos e seus efêmeros instantes de prazer e gozo... Não menos fogo, mas a menor perspectiva de ardência dolorosa no after day. Quer queiramos ou não, este "amar de amigo" é diferente da virilidade núbil e sua portentosa "ars amandi": essas fissurações juvenis que temos quando os neurônios hormonais comandam o processo do querer, tão elétricas, que acabam quase sempre em curto-circuito, queimando fusíveis, filamentos... E se perde em luz, mesmo que energia bem haja. Maturidade tem palavra de difícil exercício: paciência. A idade da sabedoria, a da senectude – como queria Cícero – é mais duradoura, frondosa de tolerância aos defeitos e eventuais virtudes. Sempre e antes de tudo a ponderação conciliatória assentada na razão. Pequenos pontos de luz sobre o obscuro iluminam o fervor do dia seguinte e aclaram possíveis esquinas de decisão, apesar de não se saber o que vem depois, nos fios energizados do existir...

– Do livro O HÁLITO DAS PALAVRAS, 2009/2013.

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