O SENTIMENTO DE IMPOTÊNCIA É TERRENO

Quantas foram as vezes que me senti impotente perante uma inusitada situação? Em algumas delas, por não visualizar nenhuma possibilidade de ação, acabei sofrendo os efeitos de minha imperfeição e das limitações que o desconhecimento de causa/efeito, faziam e ainda fazem na maior parte das minhas fraquezas .

A primeira foi quando recebi o recado da Madre Superiora; enfermeira chefe do Hospital de Caridade, de minha cidade natal e que, olhando-me no fundo dos olhos, proferiu esta terrível sentença : - Filho, lamento dizer que, ao operarmos sua mãe, ficou constatado um tumor cancerígeno maligno, e ele tomou conta dos seus órgãos internos e nada mais pode ser feito. A decisão a partir de agora é tua, pois ela irá ficar ligada aos aparelhos e, como és o único filho, está em tuas mãos a decisão : desligamos ou não ?

Meio chocado e sem entender os desígnios de Deus, resolvi, quase que automaticamente, perguntar-lhe se mamãe tinha alguma chance e recebi uma resposta taxativa : Não !!!

Foram segundos seculares; uma eternidade até conseguir sussurrar uma longa e quase interminável frase: Sim...por favor... não quero que ela sofra!...pode desligar, Madre!

Meu Deus, como foi difícil e dolorido tomar tal decisão; tão difícil que não posso afirmar se o faria nos dias atuais, pois até hoje ainda me pergunto: Será que foi a resolução mais acertada ?

Alguns anos depois, senti na alma o desencarnar de meu filho; o meu garoto Michel, que aos vinte e um anos terrenos, partia deste plano de maneira tão precoce. E assim, mais uma vez voltei a conviver com a dor da impotência e da imperfeição. Vê-lo inerte e ligado aos mesmos aparelhos que sua avó usou,- apenas mais atualizados e sofisticados- fez-me pequeno, incapaz, e totalmente dependente dos desígnios divinos. Tentei desesperadamente dizer-lhe que estava ali, ao seu lado. Que podia contar comigo, que minhas orações seriam milagrosas, mas foi inútil., ele não respondeu , e apenas os aparelhos, como que, em pânico, soaram e depois silenciaram . Eu, impotente, mas respeitando a vontade do Deus que acredito, pude apenas balbuciar:

-Vai em paz, meu filho!... Vai com Deus!... Tua avó te espera, pois eu ficarei por aqui aprendendo a conviver com suas ausências, com minha impotência ,com minha imperfeição terrena, mas com a convicção e a fé no nosso reencontro num lugar onde todas as deficiências humanas serão apenas meras lembranças da materialidade e de um belo e proveitoso aprendizado.

Gildo G Oliveira
Enviado por Gildo G Oliveira em 07/08/2013
Reeditado em 29/01/2017
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