PESCANDO DE CANIÇO PELA JANELA!
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A água corria rápido por debaixo da casa de meu tio Armando, no Varre-Vento, e eu de caniço na mão querendo pegar algum peixe que resolvesse parar para ver a isca de minhoca que colocava na água, com um anzol na ponta pronto para fisgar o primeiro curioso que decidisse ver o que era aquilo na época. Era só esperar que um deles beliscasse a isca, eu dava um puxão rápido no caniço e depois era só puxar o peixe pela janela da cozinha!
Enquanto isso, meu tio me observava calmamente ou eu o observava desconfiado? Acho que as duas coisas se faziam, mas em total silêncio, enquanto os peixes pulavam embaixo do jirau da cozinha e eu pensava que poderia fisgar pelo menos um deles, o que fosse mais curioso, momento em que lembrava que minha mãe colocava roupa de mangas compridas, um chapéu na cabeça, parada embaixo de alguma árvore frutífera no lago, pescando sardinha com seu caniço. E como ela fazia, tentava imitá-la nos gestos, mas nada fisguei! Mas se minha mãe conseguia puxar sardinha da água, por que eu não estava conseguindo? - me perguntava em desespero e em total silêncio com meu tio Armando. Talvez por não me ouvir, também nada respondia!
A enchente chegou rápido naquele ano de 1971, no Rio Solimões, emendando a água barrenta do rio com a água escura do Lago dos Reis, aos fundos da casa. Já residia e estudava em Manaus e gostava de passar férias na casa de meu avô. Era gostoso deixar a casa de minha madrinha e esperar ansiosamente o barco parar no porto de meu avô. Nessas férias, assisti ao “furo” que ligava a água do Rio Solimões ao lago, encher rápido. Media a subida da água pelo “furo”, que era um igarapé pequeno que ligava os dois locais.
- Tio, logo, logo, vai começar a dá peixe no “furo” porque a água começou a entrar. E dava muito peixe que saía do lago para o rio ou vice-versa. Era surubim, dourado...
Mas eu estava na janela da casa de meu tio, querendo pegar mesmo uma piranha que fosse, porque elas iam aproveitar os restos de comida que caíam na água. E como pulavam os peixes! Eu os via pulando, mas não peguei nenhum. Eles eram mais rápidos do que eu. Beliscavam a isca e a tiravam do anzol. Eu retirava o caniço da água, recolocava a isca e o lançava à água novamente, com nova minhoca. Repeti tantas vezes esse processo que cansei. Tirei o anzol da água e decidi não pescar mais nada, porque nada fisgaria minha mãe que continuava parada embaixo de uma árvore, “caniçando” com alegria, sol a pino, suor ao rosto e lhe “ardendo” também os braços, muito rápidos para puxar com mais uma sardinha presa ao anzol do caniço!
Meu tio deve ter ficado rindo por dentro e eu com uma vergonha por fora, mas só nos olhamos, nada falamos um para o outro. Olhei mais uma vez para ele e meu corpo de 11 anos saiu batendo o pé com firmeza, com raiva e vergonha, ao mesmo tempo!
Anos mais tarde, aos meus 27 anos, meu tio Armando alugou um barco com o motor de 12 cavalos de força e voltamos a pescar juntos em um lago no município de Autazes, também um dos maiores produtores de leite no Amazonas! Eu só queria visitar de novo o Varre-Vento, mas meu tio disse que nada era mais do jeito que eu gostaria que ainda fosse!
Foi uma viagem de volta inesquecível rumo a Manaus, depois de 15 dias parado com o pequeno motor no meio do lago, rodeado de água e floresta por todos os lados, ouvindo o barulho do silêncio da floresta, o cantar alegre dos pássaros voltando para seus ninhos ao final das tardes, além do roncar de pescadas e bacus...por baixo da embarcação.