De ponta à ponta

Comungo do entendimento de que o Padre Antonio Vieira, esse que foi o mais respeitado orador sacro das cortes européias, pelo seu saber teológico, deixou para a nossa gente autóctone uma mostra poderosa de como se partilhar a santidade, através da sabedoria. A humildade desse santo transcende até os dias atuais e, quando se quer falar em educação com amor, fome de sabedoria, e só lembrar-se de quem foi o Padre Antonio Vieira. Partilha justa, feita para um povo desaninhado pelos invasores, em leito pátreo.

Mas tudo isso carreia bons legados. Estão aí os discursos dos nossos eruditos que tanto contribuíram para as nossas artes, incluindo-se nelas a literatura. O sentimento que me nutre neste exato momento em que escrevo este texto, é o de alguém que, saindo de um anedotário continental – no bom sentido da palavra – reconta garboso para os pósteros daqueles, os homens de hoje, esquecidos talvez de tudo recontar através da escrita. Falta-nos a marcha forte para compor o laborão dos que desejam seus sonhos tornarem-se realidade.

Hoje, nossos mestres parecem ter-se eclipsados com o diálogo nacional nocivo que os noticiários nos têm mostrado. O sol da sabedoria dorme – transformado em movimento político ou greve por maiores salários –, enquanto o país, nauseado, arrasta um crescimento indesejado por todos.

Uns empulham outros, histórias assombrosas são vistas, e nada de parar-se, analisar os conteúdos necessários de serem analisados, para, só depois, analisar seus autores. A promessa maior de uma sobrevivência digna para um mestre ou doutor não está na sala de aula, mas na praça da política partidária. Os que mandam são os que mais recebem do erário os frutos mais doces.

Os pontos cegos do nosso espaço aéreo também estão nos espaços onde moram os nossos políticos. Desnorteados, trombam uns com os outros, e a Universidade continua a produzir os controladores desse espaço. O perfeito é utópico, o justo é faltoso e continua-se a viver com as promessas vagas de um grande desenvolvimento.

Nosso Estado aparece de novo como inquilino de desastrosa estatística. É nele onde se vive menos. Nossa Biafra ressuscitou nos principais noticiários do país. Comicamente, é em Brasília onde está o melhor índice de vida. Uma cidade quase dormitório para políticos do país inteiro, rodeada de favelas melhoradas, as cidades satélites. Como é estranho este país onde vivemos!

Interessante é que, desde que o Presidente Lula assumiu a Presidência da República, ainda em seu primeiro mandato, não vemos mais as greves fantásticas que os metalúrgicos faziam no ABC paulista, liderados pelos atuais comandantes do país, entre eles inclusive o próprio Presidente. No meu entender, o PT nunca foi tão paulista e de Lula como agora. Isso é estranho de entender-se. Os camaradas deram uma trégua ao Presidente. Os grandes escândalos envolvendo petistas viraram deliciosas pizzas de fim de ano, mas amargosas ao paladar da sociedade. Há algo de estranho no ar e, o que é pior, não está sujeito aos controladores dos vôos sociais do espaço da vergonha nacional. O barco anda vagaroso enquanto o rio, assoreado, seca para morrer de tudo. Somos os marujos nauseados, levados ora pela calmaria, ora pela tempestade. Continuemos a remar. Deve haver um porto seguro onde possamos atracar nosso barco, antes que afundemos de vez.

Ano-Novo requer novas idéias. Este PIB mesquinho deixa a política governamental inclassificável. Tudo isso e o Presidente Lula ainda pedindo à oposição que não o seja – imagina se a coisa pega!

Se houver triunfo com o discurso anímico dos sem-terra, invadindo os portos, há de escolher-se tempo para, em se usando da sabedoria das Universidades, produzirmos novos Padres Antonio Vieira e, através da educação com amor, construirmos o verdadeiro e sustentável crescimento que todos nós desejamos para este país.