O QUE É SER NORMAL?
As cenas dos últimos dias da novela "Amor à vida" foram, para mim, as mais tristes, mais chocantes e também as mais lindas. De um lado uma pessoa que, por imposição familiar e social, tenta levar uma vida dupla e sofre muito por isso, porque ninguém é feliz se não puder mostrar e ser como é. De outro lado o amor e a compreensão da mãe, da irmã, da avó, do filho, essencial para manter a estrutura emocional e evitar que o ser se perca em labirintos inimagináveis. De outro, um pai que prefere viver de aparências, em detrimento do amor e da felicidade do filho.
O amor ainda existe, vemos exemplos disso todos os dias. Mas a intolerância ombreia lado a lado com ele e facilita o hábito de dar as costas para quem não se encaixa nos ditos padrões sociais. Muita gente diz que não têm preconceito, mas, um exame mais apurado, mostra que elas têm, e como têm! São as desgastadas expressões, uma delas usada pelo personagem Cesar (Antonio Fagundes): "nada contra, conheço e convivo com homossexuais, mas filho meu, NÃO!" Porque homossexualismo "somente na casa do vizinho"...
Muito para se pensar, fazer um exame de consciência e ver os estragos que o preconceito pode fazer na alma de um ser humano que é discriminado só porque tem orientação sexual diferente do que a sociedade impõe como "normal".
E eu me pergunto: o que é ser "normal" neste mundo? É viver de aparências, é ser aquilo que os outros querem que a gente seja? É denegrir a imagem daquele que é diferente ou tentar mudar quem pensa diferente de nós? É enganar, é dissimular, é trair quem depôs confiança em nós? É maltratar crianças inocentes e idosos, abandonar e mutilar animais, mascarados na proteção cruel de que eles não podem falar ou se defender? Se isso é a "normalidade", sinceramente, eu prefiro ser anormal.
Cada um pense e aja como quiser, dentro daquilo que considera "normal". Quanto a mim, tenho horror a preconceito, à mentira, às máscaras. Penso que cada qual deva escolher o rumo que quer dar à sua vida, sem amarras nem imposições. Afinal, nossa liberdade só termina onde começa a do outro.