O PAPA DA LIBERDADE DE ESPÍRITO E DA RAZÃO CORDIAL

Recorro ao teólogo, professor e escritor Leonardo Boff que por ocasião da visita do Papa Francisco ao nosso país escreveu uma crônica em seu portal em 27/07/13 que bem oportuna, vem de encontro com a minha filosofia de entendimento de um ser pleno e que, portanto, faço uma resenha. Ele nos diz: Uma das maiores conquistas da pessoa humana em seu processo de individuação é a liberdade de espírito. Liberdade de espírito é a capacidade de ser duplamente livre: livre das injunções, regras, normas e protocolos que foram inventados pela sociedade e pelas instituições para uniformalizar comportamentos e moldar personalidades segundo tais determinações. E significa fundamentalmente ser livre para ser autêntico, pensar com sua própria cabeça e agir consoante sua norma interior, amadurecida ao largo de toda vida, na resistência e na tensão com aquelas injunções. E essa é uma luta titânica. Pois nascemos dentro de certas determinações que independem de nossa vontade seja na família, na escola, na roda de amigos, na religião e na cultura que moldam nossos hábitos. Todas estas instâncias funcionam como superegos que podem ser limitadores e em alguns casos até castradores. Logicamente, estes limites desempenham uma função reguladora importante. Pelo fato de o rio possuir margens e limites é que ele chega ao mar. Mas estes podem também represar as águas que deveriam fluir. Então se esparramam pelos lados e se transformam em charcos. O Papa não quer que o chamem de Sua Santidade, pois se sente “irmão entre irmãos”, nem quer presidir a Igreja no rigor do direito canônico, mas na caridade calorosa. Em sua viagem ao Brasil mostrou sem nenhuma espetacularização, esta sua liberdade de espírito. Esta liberdade de espírito lhe traz uma inegável irradiação feita de ternura e vigor, as caraterísticas pessoais de São Francisco de Assis. Trata-se de um homem de grande inteireza. Tais atitudes serenas e fortes mostram um homem de grande enternecimento e que realizou uma significativa síntese pessoal entre o seu eu profundo e o seu eu consciente. É o que esperamos de um líder, especialmente religioso. Ele evoca ao mesmo tempo leveza e segurança. Esta liberdade de espírito é potenciada pelo resgate esplêndido que faz da razão cordial. A maioria dos cristãos está cansada de doutrinas e é cética em face de campanhas contra reais ou imaginados inimigos da fé. Estamos todos impregnados até a medula pela razão intelectual, funcional, analítica e eficientista. Agora vem alguém que a todo o momento fala do coração como o fez em sua fala na comunidade (favela) de Varginha ou na ilha de Lampedusa. É no coração que mora o sentimento profundo pelo outro e por Deus. Sem o coração as doutrinas são frias e não suscitam nenhuma paixão.

Leonardo Boff
Enviado por Jô Pessanha em 04/08/2013
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