Nada é tão simples

Ao terceiro dia tomei coragem e traduzi minhas intenções para ela, o desabafo foi tão bom que nem na minha formatura me senti tão aliviado. Alívio esse que não durou mais do que o tempo necessário para abrir uma garrafa de champanhe. Da champanhe á Religião foi um pulo, e da Religião veio a discórdia; mas também não podia ser de outra forma, antes do andor chegar ao adro era necessário todo esse questionamento.

Eu sabia de antemão que as Testemunhas de Jeová têm uma série de regras para os seus relacionamentos. Ainda assim, não esperava ouvir da pessoa em questão um “não posso me relacionar com uma pessoa fora da minha comunidade”. Na hora eu pensei: estou frito, cozido e assado, mas não derrotado. Não escondo que isso me magoou, soou-me a um ultraje, mas depois me ative com atenção na forma serena com que ela tentava me explicar algo tão im(t)enso.

Fiz uma pausa a meio da conversa, fui almoçar, arejar a cabeça, colocar as idéias em cima da mesa, e de seguida voltei ás negociações. Mais umas perguntas e mais algumas respostas prontas, mais dúvidas entraram por mim adentro sem qualquer tipo de misericórdia.

E agora? O que fazer? Eu que deixei de praticar o Catolicismo para me dedicar á Ciência vejo-me agora entre a espada e a parede. Aderir a uma nova Religião é um desafio tremendo, é como se eu pegasse na ponta da minha lapiseira e tentasse escrever Aramaico. Não que me assuste com o desafio, mas o que está em causa é muito mais do que um mero exercício de adaptação. O que está em jogo é toda a minha forma de ser que construí durante anos, quer na Faculdade, quer no relacionamento com os meus. Negar a minha existência para poder estar com ela não é nem sequer uma solução plausível, é um atentado a tudo que sou.

Eu queria muito que houvesse outra solução, pois pela primeira vez na minha vida encontrei alguém que se enquadra nos meus princípios.

A semelhança/diferença? É que os meus pensamentos são parecidos aos dela, mas ela tem uma Religião, e eu? Não. Eu sou livre.