Desabafo

O que eu escrevo pode não ser interessante para quem ler. Talvez quem arriscar chegar até aqui, já não me acompanhará até o próximo parágrafo. Mas a dias há algo querendo ser dito, que tem me tirado o sono, tem sugado minhas energias, tem me deixado em estado de nervos. Eu sempre tive a palavra escrita como uma forma de desabafo. Mas nunca fui muito criativa em invenção de personagens. No entanto, sempre tentei me esforçar para deixar que algo fluísse. Com o passar do tempo, percebi que a crônica era o gênero que eu melhor me adequava. E tive uma larga produção de textos, muitas vezes autobiográficos. Havia dias em que eu me deixava tomar pela inspiração que vinha a tarde, ou de manhã, ou até mesmo de madrugada. Tudo o que eu precisava era um lápis e um papel. Deixava o texto falar por si mesmo. Mas, nos últimos meses, eu fui tomada por um bloqueio criativo que me impediu de desenvolver raciocínios para além de algumas rimas pobres.

O escritor representa aquilo que sente e sua obra reflete fielmente a sua vida. Precisei analisar bem o contexto em que eu estava inserida para entender o motivo da minha falta de produção. Um atropelamento de sentimentos me acometia, desde o medo e a insegurança, provocado por uma mudança brusca de planos. Desde então, deixei pessoas entrarem na minha vida, me permiti viver experiências novas, que deveriam acrescentar na forma como eu escrevia e descrevia detalhes e fatos nos meus textos. Mas, pelo contrário, a vontade de viver tudo ao mesmo tempo e de me entregar, mas ainda com receio de sofrer novamente, me fez ficar ainda mais confusa. Eu simplesmente me senti travada. Desde então eu tento lembrar quanto tempo faz que eu controlo o meu choro. Quanto tempo faz que eu me escondo atrás de um sorriso. Quanto tempo faz que eu finjo ser forte. Quanto tempo faz que eu tento encontrar alguém que preencha o vazio congênito no meu peito. Quanto tempo faz que eu me engano pensando que a solução para minha dor está fora de mim. Quanto tempo faz que eu não olho para o mar, quanto tempo faz que eu não piso na grama, quanto tempo faz que eu não cheiro uma flor, quanto tempo faz que eu não mergulho em um rio. Quanto tempo faz que eu não me sinto?

Dei um passo para trás, olhei a esgueira, senti uma lágrima descer pela minha face. O vento soprou os meus cabelos e trouxe o frio da chuva. Lembrei de um toque que aquece e de uma voz que acalma. Pensei no adeus que se disse ao até breve ou nunca mais, da incerteza de um futuro, da palavra que não foi dita, do abraço que não foi dado, do beijo que não foi roubado, do amor que se calou e da vida que não foi vivida.

E entendi que foi tudo isso o que fez a escritora calar-se, fechar-se dentro de si.

Stephany Eloy
Enviado por Stephany Eloy em 03/08/2013
Reeditado em 04/08/2013
Código do texto: T4418396
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