TRAIÇÃO
A ideia de que somos invulneráveis é que me provocou isto. Não que não tenha tido como saber que o contrário também está presente. Porém, deu-me motivo para a confiança. Era um amor sereno, sem atrito. Vivíamos numa certeza. Melhor dizendo, eu vivia. Nada, nenhum sinal, para desconfiança. Era íntegra, bem postada, firme, sadia. Isto eu pensava. Mas justificado. Alarde algum, grito ou mesmo o menor sinal de desconforto. E eu tranquila. Foram anos. Uma convivência de respeito. Então, mostrou-se. Que susto. Na transparência, a descoberto, foi revelação. Não tinha como mentir, dizer ser engano. Não. Estava ali, na luz, depois do raio x. Um tanto curvada, humilde, sem a proteção que antes me impedia de vê-la por inteiro, na clareza. Minha bela coluna vertebral, meu sustentáculo, está velha, desgastada. Fui murchando, ao olhá-la. Balão de festa de aniversário pendurado no fio do poste.