O OUTONO E O INVERNO DA EXISTÊNCIA
O tempo decorrido é o inimigo psicológico do ser humano.
Nada acontece por acaso. Os apelos do mundo externo foram perdendo um pouco da importância ao longo dos anos, o que nos força a investigar com mais honestidade e a encarar potenciais que foram esquecidos ou sabotados. As modificações e limitações físicas são como faróis, sinalizando a temporalidade do corpo, ajudando a prestarmos atenção no que é eterno, e não no que é finito e de fazermos o balanço da vida, com suas perdas e ganhos.
O corpo físico amadureceu nas primeiras décadas da vida, e a psique foi fortalecida. Será o momento de precisarmos desenvolver nossa autenticidade, que vem do espírito, para podermos entrar no período de puro desfrute, pura colheita, pura inspiração divina. Não é à toa que dois terços das grandes obras, na literatura, na ciência, na música ou nas artes plásticas, foram feitas por pessoas maduras. É o tempo da emancipação e da criatividade. Os clichês indicando que a vida começa aos 40, ou é hora de trocar a mulher por duas de 20, traduzem verdades e preconceitos, e quase sempre são ditos em tom de piada ou, pior, de prêmio de consolação para a “vítima” que está envelhecendo.
Quem envelhece não precisa de consolo, mas de conhecimento. Se a beleza física declina no outono, a alma começa seu movimento para cima e o potencial espiritual emerge. O envelhecimento é normal, é preciso abraçá-lo como conseqüência da vida. A vida humana segue a natureza.
Como nas estações do ano, é preciso saber, no outono, que o inverno vai chegar, e nós mulheres, sabiamente, devemos nos preparar para envelhecermos com charme, de maneira jovem. Isso exige disciplina e vontade férrea. Sei que tudo no universo é formado de energia e informação, como também posso transformar minha vida, meu corpo, de mudar a minha percepção da idade, de rejuvenescer e viver muito e muito bem, mesmo sabendo que meu corpo estará sujeito à lei da decadência, e é preciso encarar isso.
Em compensação, meu espírito pode ser transformado e rejuvenescido infinitamente. Um ditado popular diz: que o ontem é um cheque cancelado, o amanhã é uma nota promissória e o hoje é dinheiro no bolso. Podemos passar a vida na felicidade de cada instante, aceitando cada instante como ele se apresenta.
O passado acabou. É preciso desapegar-se. O futuro depende de como vivemos o presente. Só o presente é real, é uma benção, uma surpresa, um presente mesmo, com laço de fita e tudo, pronto para ser aberto. E permanecermos alertas, fincadas no aqui e agora, para estarmos na melhor estação da vida, não importando a idade: seja ela outono ou inverno da existência.