COLEGA DE TRABALHO – X – continuação.

 
                     Estou aqui de novo de olho na porta. Já fui ao espelho. Estou bem. Acho! Ela ainda não apareceu. Deve estar atrasada... Com certeza, Deus existe! O ambiente acaba de encher-se de auras, as pessoas e objetos encheram-se de energia, auras coloridas; ela acabou de chegar, passa rente, o perfume toca-me e, como vaso protegendo uma orquídea, vai para a mesa próxima à janela. Sinto vontade de falar da maravilha de estar vivo nesse momento em que posso ver e ter chance de ficar perto de alguém tão além do comum. Se a minha mesa fosse mais chegada à janela, talvez desse para sentir o perfume e, no silêncio ouvir-lhe a respiração. Isso não seria possível, a menos que um dia eu me deitasse com ela ou a beijasse louca e longamente.
                    Esse dia passou como sorriso de uma criança — belo e breve, e o tal fim de semana está aí como uma serpente no meu caminho. Sinto uma saudade antecipada e, o pior, as minhas deprimentes tentativas de falar com ela só pioraram a minha imagem. Preciso ser mais arrojado — atrevido! Mulheres gostam de homens atrevidos, são primitivos, másculos para umas e estúpidos para outras. Levantou-se. Hoje não me escapa. Somos colegas. Vou falar como quem não quer nada. Falar o que? Sobre meteorologia outra vez?
— Olá! — mais uma vez eu.
— Oi. — Disse sem me olhar, arrumando a desarrumação interna de uma bolsa grande.
Parece que não me estranhou.
— Você mora perto? — perguntei logo atrás pisando no último degrau.
Não houve resposta. Não percebeu que a pergunta tinha sido dirigida a ela.
                Na rua tomou o seu destino sem olhar para trás, como que encolhido, fui para o meu canto sonhar um sonho de amor onde poderei abraçá-la e possuir com toda a minha sede o corpo amável.
(Jorge Lemos)
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 03/08/2013
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