Deve haver alguma coisa que ainda te emocione
- Nando, você tem que ler “Cem anos de solidão”
- Tá!
Naquele ciclo interminável que é a existência do homem, volta e meia a volta se completa e voltamos ao mesmo lugar. E foi assim que eu me vi, outra vez mais, me arrepiando ao ouvir pela enésima vez pela primeira vez o “Banco” do Gessinger exatamente na semana da leitura do Nobel do Gabo. Não é que todo mundo estava certo, eu tinha que ler esse livro. Na verdade, estavam todos errados, pois há que se viver cem anos de solidão para se compreender os meandros da vida circular de todos nós.
Passa o tempo e eu caio num bom livro. Passa o tempo e eu caio outra vez na engenharia hawaiana. Passa o tempo e eu percebo o tempo passando tão rápido que eleva um medo atônito de não conseguir terminar de ler o livro da cabeceira. Passa o tempo e me dou conta de que eu ouvi a mesma música a semana inteira (e foi muito bom). Passa o tempo e eu me dou conta de que não vai dar tempo de ler todos os livros que deveria e não vou ouvir necessariamente todas as vezes que gostaria a mesma música.
Deve haver alguma coisa que ainda te emocione
E como tem... tem sempre alguma coisa que ainda me emociona. Primeiro porque eu sou facilmente impressionável; aquele sujeito tipo pele/coração. Segundo porque eu adoro futebol e seja secando o rival ou torcendo pelo colorado, um gol no fim do jogo ainda dispara um gatilho de adrenalina sobre-humano. Terceiro por que o gosto pelos vinhos faz uma garrafa bem harmonizada com o jantar sublinhar um momento único. Quarto, e não menos importante, porque o “nada para fazer” me faz muito feliz. Quinto porque o minuano me traz recordações passadas e aspirações futuras que ajudam compor, escrever, ler, fumar... tanta coisa que altera o meu banco de dados.
Deve haver alguma coisa que ainda te emocione
Sim. Como a última oração; da última página; do último capítulo dos cem anos de solidão.