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Um Ipê de caráter

Quando o ganhamos de presente de minha irmã, ao nos mudarmos para esta casa, era apenas uma arvorezinha magrela e pequenina. Ao perguntarmos de que espécie se tratava, ela respondeu-nos: "É um ipê roxo!"


Já temos um amarelo, que já estava na casa desde que ela existe, e pensei na beleza efêmera das flores todo mês de setembro. E quando elas caem e se esparramam pelo gramado e pelas escadas qual flocos amarelos, parece ainda mais encantador. Pensei que adoraria ter um outro, de outra cor.


Plantamos a árvore há alguns metros do muro que separa nossa casa da casa vizinha. O tempo foi passando, e ela crescendo. Todo invernos, deixa cair as folhas até ficar totalmente nua, os galhos crescentes  estendidos como finos dedos ansiando pelo céu.


Um dia, procurei saber mais sobre os ipês roxos, e o que descobri, espantou-me: quando em florestas, eles podem crescer mais que trinta metros! Meu marido ficou com medo: o nosso já estava quase na altura da casa, que é de dois andares. Pensou em mandar cortá-lo. Pedi que tivesse um pouco mais de paciência.


O tempo foi passando, e nada de flores roxas. Até eu pensei que talvez fosse apenas uma árvore comum, e que não se tratava de um ipê roxo. Quando eu pedia aos jardineiros que a cortasse, eles exclamavam: "Faz isso não, dona Ana. Isso fica é lindo!" Pesquisei mais uma vez e descobri que um ipê roxo pode demorar até oito anos para começar a dar flor, e que longe da escuridão da floresta e do solo enriquecido por folhas secas e pequenos animais mortos, ele não cresce tanto.


Há pouco tempo, eu e meu marido estávamos no jardim, em uma tarde de domingo, olhando para ele - já totalmente nu, algumas de suas folhas secas ainda caídas em volta da árvore. Confabulamos sobre o seu destino, e mais uma vez, meu marido manifestou-se a favor do corte. No dia seguinte, cheguei perto da árvore e conversei com ela:


"Escute aqui, amigo, se você realmente for um ipê roxo, trate de produzir algumas flores, ou temo dizer que seu destino esteja selado."


Algumas semanas depois, achei uma florzinha cor-de-rosa no chão da varanda, mas como tinha ventado muito durante a noite, pensei tratar-se de alguma flor que tivesse viajado de algum outro jardim. Mas ao olhar para cima, constatei que os galhos totalmente nus do meu ipê já não estavam assim tão nus: em uma das pontas, havia um cachinho com três flores pequeninas. E não eram roxas: eram cor-de-rosa.


Imediatamente, escutei a mensagem da árvore: "Eu sou o que vim para ser. Tenham um pouco mais de paciência comigo, e na hora certa, eu lhes entregarei a beleza de minhas flores."


Decidimos que o ipê fica.




 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 02/08/2013
Reeditado em 02/08/2013
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