INSPIRAÇÃO

Como do jamais, quase num súbito, assim como uma leve brisa inesperada, vem a inspiração, de forma calma, lenta, porém firme e serena. O jorrar das palavras, por conseguinte, se segue a esse misterioso instante mágico e único, de impressionante fascínio. Lembra vagamente o correr de um rio após copiosa tempestade, e com ele, em suas pequenas ondas, vem um amontoado de destroços, troncos, galhos e folhas sendo levados para lugares indefinidos, enveredando por rumos desconhecidos. Intensifica-se, daí, o fluir do enamorar das frases, que se beijam em abraços ardentes, que se dão como casais apaixonados em plena lua de mel, nascem flores em jardins abundantes, espalham-se abelhas retirando néctares angelicais, pássaros fazem ninhos e criam filhotes, a manhã se torna ensolarada, o entardecer pinta o céu com as lindas cores misteriosas do por do sol esplendoroso.

Porque a inspiração traz à tona a ternura especial escondido nalgum recôndito d'alma, faz brotar do ínfimo nada a beleza enraizada nos desvãos do coração, mostra-se, exibe-se, aparece e sobrepuja tudo, diz a que veio. E se excita feliz, extraordinária, sorri feito criança sapeca, corre de braços abertos para agarrar o vento, salta de altos rochedos para mergulhar em águas profundas e sair nadando como um peixe buscando algo inexplicável. Mas ela também, ao mesmo tempo, se acalma e, branda em seus atos, caminha a passos tardios, meio à guisa de cansada, quiçá atordoada, talvez até mesmo envelhecendo como amadurecem os mais belos e desfrutáveis frutos. Nesse caso, se transforma em peça rara.

Nesses instantes, quando a inspiração rompe as correntes de aço que a prendiam sabe-se lá onde, em esconderijos imperceptíveis alhures, decerto, todas as portas e janelas são abertas para desvendar o tudo, o todo, os olhares mais significativos, os sorrisos mais atraentes e brilhantes, a meiguice enobrecida pela sedução, beija-flores batendo a mil suas lindas asinhas azul-esverdeadas, borboletas enlouquecidas pelo colorido das rosas em jardins perfumados. Vem as cores estonteantes, os desenhos enternecedores, as mãos loucas para afagar, os lábios na ânsia de beijar, os mais doces seios enlouquecidos de desejo e intumescidos de amor. Impossível, destarte, dominar a força titânica dessa inspiração arrebatadora. Pois ela é sui-generis e sozinha transforma água em vinho, o feio no belo, o vazio na abundância, a fome na saciedade, as lágrimas em gargalhadas de indubitável alegria. Está, por conseguinte, no seu ápice.

Deixemos, então, o pleno voar da inspiração nas asas seguras e abençoadas da imaginação, demos a ela o espaço incomensurável, que ela voe tão alto e segura ao mais distante dos ares celestiais, que fale alegremente com as estrelas, ouça-as respeitosas em seu silêncio, durma na cama lunar e desça ao mais profundo dos mares para encontrar o impensável, sim, o inimaginável, o mistério do desconhecido, almas novas, sorrisos meigos, beijos e desejos ardentes. Que a inspiração seja o êxtase mais completo na mente e nos dedos do escritor criativo e prolífico, que nunca se torne somente mínima, pequena, fragmentada, embora tenha singeleza, e tampouco acabe jamais, pelo contrário, multiplique-se e realize as mais lindas fantasias que apenas o imaginário humano talentoso é capaz de conceber. Explode inspiração!

Gilbamar de Oliveira Bezerra
Enviado por Gilbamar de Oliveira Bezerra em 01/08/2013
Reeditado em 12/08/2013
Código do texto: T4415381
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