Amazônia privatizada
Seria cômico se não fosse trágico ou tragicômico se fosse verdade? E não será? Nos termos propostos, não! Senão vejamos:
O senador Arthur Virgílio, do PSDB do Amazonas, subiu à tribuna do senado para fazer um discurso em defesa da soberania brasileira sobre a floresta Amazônica. Diríamos: “até que enfim alguém se indignou e resolveu dar um basta no olho gordo das potências em cima de nossa floresta!”. Entre outros colegas, exaltada com o fato, a deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB-AC), engrossou o coro em defesa do exuberante patrimônio nacional. Tudo isso por causa de um site que propõe a venda de toda Amazônia (que abrange em parte, territórios de alguns países latino-americanos) a um grupo de milionários estrangeiros que a pretenderiam comprar, para protegê-la dos desmandos quanto à sua preservação. Essa iniciativa seria de um laboratório internacional chamado Arkhos Biotech que estaria por trás da articulação.
Existe uma espécie de jogo virtual chamado ARG (Jogos de Realidade Alternativa), onde os participantes criam situações e personagens reais ou não, em qualquer proporção, e que foi divulgado por alguns sites, inclusive pelo You Tube. No Brasil, o jogo tem o patrocínio da Ambev. Nem precisa dizer não é? Era tudo armação. O laboratório não existe. É uma ficção. E os nossos bem assessorados parlamentares partiram pra luta sem o devido conhecimento de causa. Uma tremenda de uma gafe. A deputada Perpétua, revoltada com o engodo, chegou a entrar com um requerimento na mesa diretora da Câmara para solicitar que o Ministério da Justiça descubra o responsável pelo vídeo.
Na estória, há vilão e heróis em disputa da floresta. A Ambev chegou a convidar o senador Virgílio a participar da segunda fase do jogo, quando haverá a defesa da Amazônia e dos interesses nacionais, mas o convite ainda não foi aceito.
Duas reflexões que poderíamos fazer do episódio: a primeira é que a realidade virtual está cada vez mais se misturando com a realidade a ponto de fazer as pessoas parecerem “desinformadas” quando não conseguem distingui-la. A segunda é que os nossos políticos, no afã de aparecerem apontando as “falhas” e se “indignando” no plenário, se esquecem de fundamentar o assunto a que se propõe “defender”. ...E todo mundo sabe: não se pode jurar sobre a Bíblia a veracidade de grande parte dos assuntos que se vê na web!
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A fonte de pesquisa foi a reportagem de André Perfeito, para Revista Carta Capital.