Receita pra desembaçar ouvido

Tem todo aquele papo, até meu mesmo, de que pra ser feliz, pra ser inteiro e pra dar conta de pelo menos parte das coisas da vida, é preciso se permitir, se respeitar e tal. Mas será que é só isso? Será que damos conta de manter nossos relacionamentos nos baseando apenas na permissão e no respeito?

Bom, eu gosto da liberdade. Gosto do que ela provoca em mim. E gosto dela em todos os sentidos, especialmente na forma como me expresso. Eu me permiti falar o que penso e me permiti me respeitar quando penso algo que é contrário ao desejo de alguém ou não se encaixa em próprios desejos ou planos.

Mas o que faltava, e que percebi esses dias, é que eu precisava me escutar, ouvir o tom da minha voz e as minhas palavras. Eu precisava me olhar no espelho e tentar combinar minha voz e minhas feições com meus desejos e com meus conselhos. Pra tentar recuperar um pouco da minha ternura e delicadeza perdidas.

Descobri que aumento o volume da conversa de três pra dez em segundos e transformo chuvisco em furacão. Tão desnecessário e tão distante de mim.

Algumas vezes é normal que você se altere e até que culpe o outro pela carruagem ter perdido os eixos. Mas eu não me esqueço de uma frase que sempre ouvi do meu pai: carroça vazia, faz muito barulho! Não quero parecer vazia. E sei o quanto é difícil essa tarefa de remendar processos a cada falha. Mais difícil até do que o processo em si.

A vida não é complicada, mas é normal oscilarmos. Eu me chateio, me alegro, me devoro e engulo seco. Mas eu tento. Não paro no meio do caminho, não me esqueço e aprendi a me escutar além de me enxergar. Todo processo é válido e demorado. Não pense que vai acordar amanhã se aceitando e contando de um até dez com a maior facilidade do mundo, antes de falar asneiras ou ofender alguém.

FALE! Mas fale com cautela pra que possam te ouvir. Barulho de explosão é assustador, não é? E tudo em volta fica empoeirado, desorganizado, um caos! Quanto menos chateações você acumular na garganta menos vai engasgar com o próprio remorso ou com a solidão.

A combinação de permissão e respeito é quase perfeita, antes você tem que aprender a se ver e se ouvir (e tem que fazer isso bem), pra dar conta de sentir o outro, pra dar conta de vê-lo e de ouvi-lo como ele merece e como você mesmo gostaria de ser sentido.

AnaNunes
Enviado por AnaNunes em 01/08/2013
Reeditado em 02/07/2015
Código do texto: T4414965
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