O DIREITO DE IR E VIR

Na carta magna que rege as leis deste país, a Constituição Brasileira, está escrito que todo cidadão da nossa república tem o sagrado direito de ir e vir, locomovendo-se por todo o território nacional livremente, a trabalho, a passeio e por outros motivos quaisquer, desde que devidamente documentado.

Pois hoje, entre as 10,30 e as 14,00 horas eu tive esse meu direito constitucional cerceado graças ao estado de coisas que impera no Brasil, desde as manifestações que vêm pipocando a partir de 18/6/13 para cá.

Fui ao Aeroporto de Confins apanhar minha nora Karina, sua mãe Delma e meu netinho Tomás, na companhia da minha mulher, Dona Mari, todos eles procedentes de Vitória/ES, onde passaram alguns dias curtindo férias à beira mar. O aeroporto está em obras, com vistas à próxima Copa do Mundo e a bagunça é infernal, sendo imensas as dificuldades para entrar ou sair de lá. Faltam estacionamentos, muita poeira, os serviços básicos de atendimento (banheiros, lanchonetes, transporte, etc.) e tudo é sofrível, para não dizer lastimável.

Logo o nosso carro saiu quase foi envolvido por uma passeata de funcionários do aeroporto, em greve por melhores salários. A Karina acelerou, tomou-lhes a frente e pegou a estrada para Belô/MG. O dia estava bonito, o sol claro e o trânsito fluía normalmente até chegarmos próximo à Cidade Administrativa, sede do governo mineiro no Bairro Serra Verde, em Venda Nova.

Foi quando os automóveis, caminhões, motos, vans e carretas foram parando bem defronte ao belo conjunto arquitetônico, uma das últimas obras do grande Oscar Niemayer. Buzinas tocando, motoristas e passageiros deixando os veículos e buscando saber o que ocorria, quando se viu um grande rolo de fumaça escura subindo aos céus lá em baixo, cerca de uns dois quilômetros adiante.

Desci do automóvel, juntei-me a algumas pessoas que, nervosas, questionavam a paralisação, mas fui chamado pelos meus para voltar. Eles temiam pela minha segurança, é claro.

No carro, eu olhava para a bela obra do famoso arquiteto, com centenas de janelas todas espelhadas e pensava cá com os meus botões:-

“- Puxa, mas logo à frente da sede do governo mineiro. Parece até proposital.”

E era mesmo, o objetivo era chamar a atenção do Governador Anastásia para o motivo do bloqueio, pois logo a seguir veio um homem de meia idade, calvo, com um colete emblemático da Polícia Civil, distribuindo folhetos reivindicando melhoria salarial, aumento dos quadros efetivos da polícia e melhores condições de trabalho.

Quando ele entregou-me o folheto, agradeci e indaguei de pronto:-

“- OK, meu amigo, vou ler com atenção as reivindicações da sua categoria, mas quero lhe perguntar uma coisa:- e o nosso direito de ir e vir, como é que fica? Da mesma forma que vocês têm o direito de protestar por melhores salários nós outros, cidadãos, temos o nosso direito de transitar livremente. O direito de um termina quando começa o direito do outro, certo?”

“- Certo, companheiro, mas nós precisamos chamar a atenção do governo, por isso bloqueamos a pista, entende?” – respondeu ele.

“- Mas veja bem, como fica a minha situação, por exemplo:- diabético, necessitando de alimentação e remédios com hora marcada, aqui preso no engarrafamento e sujeito a uma crise de hipoglicemia? Quem vai me acudir? Acaso vocês, da Polícia?...”

“- Ah, meu senhor, é complicado, mas agüenta mais um pouco, por favor. Dentro de mais trinta minutos liberamos a pista, ok? Nosso protesto está no fim.” – e continuou distribuindo seus folhetos.

Para sorte minha, a Dona Mari havia trazido uma barrinha de cereais na sua bolsa e o alimento veio me socorrer até que o trânsito fosse liberado. Coisas do momento atual e do desgoverno que grassa por toda a nossa pátria amada e gentil, de norte a sul e do leste a oeste deste nosso Brasil caboclo! ...

-o-o-o-o-o-

B.Hte., 31/07/13 (20,30 h)

RobertoRego
Enviado por RobertoRego em 31/07/2013
Reeditado em 20/08/2013
Código do texto: T4413821
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