RECAÍDA II

- Mas, afinal, o que você tem, mulher? Indagou, alarmada, D.Lili, ao ver sua empregada sentada na cozinha, cabeça entre as mãos, olhar distante.

- Nada, não, D.Lili, tavaelocrubrano, pensano na vida...

- Elucubrando e pensando, Edi. Aposto que foi o Altamiro que te ensinou isso.

- Foi ele mermo! O Miro fala bunito e até me chama de Didi e diz que sou uma fofura, o pão-de-lott da vida dele!

- É pão-de-ló, menina. Lott foi um general e Ministro da Guerra. Agora, na realidade, acho que o apelido dado a você pelo Altamiro, foi muito bem colocado,haja vista certas partes da sua anatomia.

- Hum... mas o que eu tava remoeno era com o que me aconteceu na quarta-feira...

- Estava remoendo... mas, continua, Edi, o que foi, afinal?

- Divinha quem bateu na porta da minha casa? Ah, esqueci de dizê que o Miro alugou uma casinha de arvenaria lá no morro; larguei o barraco velho, D.Lili !

- É alvenaria, minha filha, ou seja; feita de tijolo e cimento. Mas diga lá quem foi o visitante, embora eu já esteja com o seu nome na ponta da língua.

- Se é o Arlindo, a sinhora acertô em cheio! Foi o danado mermo!

- Ai, meu Deus! exclama D.Lili, revirando os olhos para o céu.

- Pois é, ele disse que foi ao Maraca ver o Mengo solapá o Vasco e, depois,caiu na gandaia. Chegou que era uma lástima; sujo, sem o querido boné, camiseta com uma alça só... e faminto!

- Sim, e daí? – retruca D.Lilii, já com uma ponta de sobressalto.

- Daí é que a gente somos humano e num vamo deixá um filho de Deus ao desamparo, num é ?

- É, criatura, e depois?

- Ué, dei um banho nele, fiz uma comidinha e botei o pobrezinho na cama porque ele tava com muito frio.

- Santo Deus ! – mas você ficou lá na sala, não é ? – disse D.Lili, quase aos berros.

- Eu até quiria, balbuciou Edileuza – mas o infeliz me chamô, disse umas coisa nus meus ovidos e – a sinhora sabe – deu aquela fungadinha no meu cangote....

- Pode parar – soluçou D.Lili, esquecendo até as correções - E o Altamiro, mulher ?

- O Miro tava lá na biboca do Serafim (que de anjo só tem o nome) numa falação danada de cumprida sobre as atual cunjuntura e só chegou tarde da noite, quando o Arlindo (êta homi !) já tinha picado a mula, levando, ainda, uma velha camisa do dito cujo.

- Edileeeeeeeuza! – foi a última exclamação de D.Lili, antes de desabar sobre a cadeira da cozinha.

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(continue lendo o colega Cronista)

paulo rego
Enviado por paulo rego em 31/07/2013
Reeditado em 15/12/2013
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