ENCONTRO DE ALMAS

O Início dessa história se deu quando eu tinha 09(nove) anos de idade. A primeira vez que fui à praia (São Vicente em São Paulo), quem me levou foi uma amiga de minha mãe. Éramos muito pobres. Meu pai era alcoólatra e minha mãe lavava roupa para sustentar seus 07(sete) filhos. Fui com a roupa da escola, uma camisa branca, calça rancheira preta, blusa de frio e um sapato de plástico rasgado. Estava tão frio que nem tirei a roupa para entrar na água. Quase morri afogada ao tentar me abaixar para que onda passasse por cima de mim. Talvez seja por isso que nunca aprendi e nem tenho vontade de aprender a nadar.

Essa amiga de minha mãe faleceu aos 26 anos, 40 dias após ter dado a luz a uma linda menina. Ela estava se recuperando quando começou a sentir muitas dores. O médico deu-lhe um remédio e mandou-a de volta para casa. Não demorou muito para que as dores voltassem ainda mais intensas. Voltando ao hospital ficou internada. Fez os exames que acusaram um corpo estranho dentro dela. Descobriu-se que era um instrumento cirúrgico esquecido dentro de sua barriga. Na tentativa de retirada do objeto ela veio a falecer, deixando quatro meninas, todas pequenas. A mais velha, de outro relacionamento, tinha apenas 04 anos de idade. As outras duas, inclusive a recém-nascida, filhas de um pai que não tinha nenhuma responsabilidade, começaram a enfrentar o martírio a que foram submetidas. Ficaram com os avós maternos, com a Tia do pai e com a Tia materna.

O tempo se passou e as meninas ficaram moças e foram morar juntas. Hoje todas estão casadas e já são mães.

Trinta anos se passaram até que uma de suas filhas entrasse em contato comigo. Eu tinha uma foto de binóculo daquele tempo e mandei revelar duas cópias, uma para mim e outra para ela, e optei por entregá-la pessoalmente. Marcamos um café da tarde para o dia 09/07/2013 as 17:00hs. Levei minha mãe, já que ela tivera mais contato com a falecida que, se fosse viva, seriam melhores amigas.

Fomos ao encontro no dia marcado. Eu, minha mãe, minha irmã e meu cunhado. Lá fomos bem recebidos, inclusive pela Tia que a criou. Apesar de não ter sido convidada, ela quis rever minha mãe. Foi muito emocionante! Mais tarde chegou outra filha juntamente com seu marido e a filhinha. Cumprimentamos-nos e entreguei a foto tão esperada. Ela se surpreendeu pelo fato de a saudosa mãe estar de Maiô, o que indicava que ela era bem moderna para a época. Minha mãe contou um pouco de como elas eram amigas. Alegre e prestativa, seria uma amigona se estivesse viva! Fomos convidados a ir até a cozinha para lanchar. Amei a mesa posta. Caldo verde, tortas de morango, pão recheado, sucos e cafezinho. Uma delicia tudo! Esse encontro que propiciei a elas foi maravilhoso, uma vez que não tinham nenhuma foto de sua mãe. Ainda mais maravilhoso foi o reencontro delas, após mais de trinta anos. Por fim marcamos um novo encontro. Dessa vez um almoço na casa da Tia. Fiquei muito, muito feliz de fazer parte dessa história.