Regras Obrigatórias
Acreditamos que há coisas que não precisamos ou devemos questionar. E podemos certamente passar a vida sem fazê-lo. Achando que temos a certeza de que isto seja o correto.
Há pouco deparamo-nos na internet com pronunciamentos, provocados por “performances” consideradas desrespeitosas ou ultrajantes, reclamando, por exemplo, de terem sido os 10 Mandamentos “nos enfiado goela abaixo”.
De fato não temos, na verdade, uma religião. Acreditamos naquilo que nos disseram que deveríamos acreditar. Não nos deram a chance de saber SE era realmente para acreditar. O que acontece desde o nosso nascimento. Quando não nos perguntam se queremos ser batizados. Apesar – podem sempre argumentar – de o bebê nada poder dizer.
E houve o tempo em que quem não era batizado, tornava-se por isso estigmatizado. É possível que isso ainda aconteça.
Talvez seja por essa razão que tem se tornado histórica e universalmente inócuo o mandamento “não matarás”. Que é uma das coisas que os seres humanos fazem com mais frequência contra si mesmos. E outros, como “não roubarás”, etc. Que soam como regras. Como as do Departamento de Trânsito. Que acabam sendo obedecidas eventualmente. Isto é, quase sempre de acordo com a nossa conveniência, disposição, inclinação (ironicamente) para uma boa ação – decisão pessoal. Mas quase nunca em decorrência do estrito cumprimento do mandamento ou regra. Ou da imposição.
Possivelmente porque a sua concepção, validade e essência não é algo que tenha se originado em nós. Mas algo que veio do exterior.
Como não deixar de cobiçar a mulher do próximo? Se ela é extremamente atraente, pra não dizermos gostosa? Ainda mais se ela, percebendo isso, não faz questão de inibir essa cobiça. O que, na impossibilidade de que aconteça algo de mais concreto, pelo menos lhe adoça o ego.
Contudo, não iremos cobiçar a mulher de um amigo, por exemplo, embora possamos fazê-lo sem que ele ou ninguém nunca percebam, não por existir uma regra ou mandamento que nos impeça. Mas pela conduta social, também por nós adquirida, que nos adverte ou lembra que a mulher é dele, e não nossa. Ainda que pudéssemos admitir que mulher não é relógio, automóvel ou telefone celular pra ser só de alguém. Nunca será um objeto de uso pessoal. A não ser que seja essa a opção dela.
Tratam-se, portanto, as regras ou mandamentos de imposições, a rigor, insuficientes na sua essência. O que se torna mais dramático na medida em que somos obrigados a admiti-las sem qualquer questionamento ou contestação.
Dramático sob o ponto de vista do favorecimento da construção de um homem confuso e indeciso pelo resto da vida. Que não conseguiu assimilar as determinações recebidas ou integrá-las, por assim dizer, à sua corrente sanguínea ou ao seu DNA. Dando-se o conflito toda vez que tais imposições não conseguem se achar esclarecidas na sua essência. Essência cujo conhecimento em potencial, aliás, pode ocasionalmente para o homem não fazer sentido.
As regras obrigatórias – a Natureza nos ensina – devem ser apenas as menstruais. E aí, devemos reconhecer a preponderância da mulher em relação ao homem. Mesmo que não seja total. O que por certo nem mesmo elas desejariam.
Rio, 31/07/2013