J M J
Por mais contundente que seja a nossa impotência frente aos desmandos e a velhacaria dos homens públicos nacionais, não podemos deixar de registrar o nosso descontentamento com a ação (ou a falta dela) desses histriões do poder.
O governo do Estado do Rio de Janeiro teve tempo bastante para preparar a cidade e os locais dos eventos, mas o que se viu (pelo menos eu vi) foi o improviso tentando solucionar os problemas que não existiriam se:
- tivesse havido um planejamento;
- definição de obras a serem executadas;
- obediência ao cronograma;
- plano logístico para o deslocamento dos participantes;
- menos cinismo e mais vergonha na cara.
Para se executar qualquer coisa que não seja molhar os pés, todo mundo sabe que é preciso primeiro drenar uma área alagada.
O holandês sabe disso há mais de mil anos. Cidades como Recife/PE ou Santos/SP, só existem porque foi feita a drenagem do mangue, entretanto os “engenheiros” do Rio de Janeiro desconhecem esse fato, tanto que, aterraram o espaço, onde seriam realizadas as solenidades de encerramento do encontro, na presença do Papa, e tudo ficou debaixo d’água.
Os comerciantes de alimentos, do entorno, ficaram com o prejuízo por conta das mercadorias estocadas sem ter a quem vender e os participantes, que receberam os tíquetes alimentação, ficaram sem ter onde comer porque os restaurantes e lanchonetes, de Copacabana, não estavam preparados para enfrentar a demanda, nem foram contatados para aceitarem os tíquetes alimentação.
Em obediência à inexorável lei da oferta e da procura (e principalmente para satisfazer à ganância dos desonestos) um copo de 200 ml de água mineral (?) foi vendido por R$ 6,00
As ruas do bairro foram fechadas ao tráfego (nada mais justo), mas os ônibus e o metrô deixavam os participantes nove quilômetros antes do local do evento, sem qualquer justificativa plausível.
Os quase seis mil agentes que fizeram a segurança do Papa, foram incompetentes para evitar que, por duas vezes, Sua Santidade recebesse uma cuia de chimarrão de “alguém” do meio da multidão. Obviamente era só mate que continha a cuia, mas e se estivesse envenenado?
Que resposta o governo brasileiro daria ao mundo se por acaso o Papa morresse em consequência de um “descuido” e por algo que poderia ter sido evitado, com um simples tapa na cuia, que iria ao chão, antes de ser entregue ao Pontífice, assim como todos aqueles bebês que foram levados para serem abençoados e beijados, poderiam muito bem estar recheados com explosivos.
Nesse caso teríamos o privilégio de lançar no mercado terrorista os nenéns bomba, para concorrer com os homens e a vovó bomba do oriente.
Vale a pena salientar que, quando os eventos foram em locais controlados pela Aeronáutica, havia cães farejadores de explosivos, esteiras de Raio X e revista pessoal com detectores de metal.
É sabido que o Papa gosta de abraçar e ser abraçado, como ele mesmo diz, gosta de sentir o cheiro do povo, mas gente para chegar até ele, deverá ser previamente vistoriada por se tratar do líder da Igreja Católica Apostólica Romana e chefe do Estado do Vaticano.
Nos próximos 2014 e 2016 o Rio de janeiro sediará parte do mundial da FIFA e a totalidade das Olimpíadas.
Na J M J, a maioria da população, como o nome sugere, era composta por jovens, que tudo aceita e pouco ou nada reclama, principalmente por fazer parte da população religiosa, cuja doutrina valoriza o sofrimento como elemento essencial para o ideal de santificação, cujo ponto alto é o sacrifício perfeito, rememorado no banquete antropofágico que se realiza com toda pompa e circunstância.
Entretanto os públicos, do campeonato mundial de futebol e dos jogos olímpicos, são bem diferentes. As agremiações não aceitarão os improvisos que aceitaram os jovens da J M J, e tudo terá que funcionar pelo padrão FIFA (para utilizar o termo em voga) que define a profissionalização das ações, no mínimo, exigidas.
Francamente eu espero não ter o desprazer de assistir, ao final dos eventos, o prefeito do Rio de Janeiro vir a público dizer que “apesar dos percalços, de termos perdido algumas batalhas, ganhamos a guerra”.
Quem deve ganhar é o povo, esse mesmo povo que precisa saber o que diz o Art. 1º da nossa Constituição e fazer valer o seu poder, colocando gente decente nos postos chave da nação.
GLOSSÁRIO:
Art. 1º = Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.
FIFA = Federação Internacional de Futebol Associativo.
J M J = Jornada Mundial da Juventude.