Boneca inflável
Envergonhou meu corpo e você sabe disso,
Me fez inferir a tudo que conheço de bonito
Foi capaz de me maltratar tanto,
Que hoje não gosto do meu reflexo no espelho
Foi um pesadelo sem final
Um dia você se faz de pura,
No outro acorda suja
Com marcas pelo corpo e alma
Você pensa que sou boneca inflável
Um brinquedo que se usa e se cansa,
Algo que não tem nome bonito
Por isso se tornou feio
Homens pensam que podem fazer o que querem
Com uma mulher e uma garota indefesa
Acham que não vai ter consequências,
E pra eles não tem
Só que a carne é minha
Os sentidos são meus
A dor é a minha e a do meu órgão sexual
Do meu tempo que não passa assim fácil
Você pensa que acordei agora, e foi
Quando se é tão frágil e indefeso
Não se tem noções básicas de sobrevivência na selva
Tudo que se quer é liberdade do seu ego e corpo
Não tinha como negar,
Não queria mais viver em prol disso
Foram muitos anos de dor e falta de voz
Foram momentos em frente ao portão, você se lembra?
Pode até ter esquecido,
Porém eu tenho memória fresca
Foi o pior momento da minha vida
Da falta de atitude de quem me guardava
Não tenho como esquecer que me machucou
Não tenho como apagar o que me fez cair
Não tenho como deixar os medos afastados
Foi você quem me construiu assim
Vocês homens tratam mulheres como pães
Dos quais não ligam pra que fazem delas
Não tenho vontade de ser um objeto de prazeres
Isso continua me dando bastante nojo
Acredito que ainda há muito pra se fazer,
Não discordo de isso um dia mudar
Só que enquanto não me ver e ver minha carne com respeito,
Ainda vamos ter muitas mulheres e meninas com a alma pra ser lavada.