A COLEGA DE TRABALHO VI (continuação...)


                     Indo do sonho à realidade, misturando um pouco de compulsão e o prazer por ter lhe tocado sem querer... Meu fim de semana foi como se tivesse de arrastar uma pedra dez vezes o meu peso. Só não entrei em desespero porque fiquei sob a luz da segunda-feira.
               Hoje novamente cheguei primeiro. Dei uma chegada ao banheiro e conferi a aparência num espelho pequeno — conclui que está tudo bem sob o meu ponto de vista. Depressa volto ao meu o lugar e estico os olhos para a entrada do escritório; com a CPU roncando como um gato dormindo fico na expectativa. Agora somem o pensamento e o ar! É ela chegando com a mesma beleza, não mudou nada no fim de semana. Parece intocada. Sinto um alívio. Está com uma saia vermelha bem acima dos joelhos. Só Deus pode construir tanta perfeição e tentação ao mesmo tempo! Com jeans ela estaria mais protegida... Vestida desse jeito, não vou deixar a minha mão esbarrar nela, em hipótese nenhuma. Passou e vai sentar-se à mesa rente à janela. O perfume já não é mais invisível para mim! Sinto-o abraçando-me, acariciando-me como seu eu fosse “o escolhido dela”. Entrou conversando com uma colega, talvez por isso não tenha falado o bom-dia quase sem som. Mas pude ouvir a voz afinada...
                   O trabalho arrastou todos para o período da tarde. Vejo cansaço no rosto de muitos colegas, mas ela parece que acabou de sair do banho! Está viva e se agitando a espera do por do sol. Os papéis estão sendo ajeitados para serem examinados amanhã. Todos se movem num caos organizado. Dou um jeito e fico muito próximo dela. Sinto-me como se estivesse caindo num abismo a procura de alguma coisa para agarrar e seguro no primeiro galho.
— Desculpe-me pelo que ocorreu...
— Sou interrompido pelo olhar surpreso e levemente agressivo. Não devia ter falado nada. Talvez ela não queira que outras pessoas saibam sobre a minha mão roçando-lhe as nádegas na sexta-feira. Será que ela não sentiu o toque? Ou não se lembra de mim?
            Como sombra movimentando-se com o sol, ela distancia-se e mistura-se ao vaivém da rua. Sem disposição e desanimado vou para minha solidão. Amanhã farei de conta que eu não sou eu, e por isso não houve nada. (Jorge Lemos)
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 30/07/2013
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