CRÔNICAS BONAERENSES (117º dia) - Beijo ou aperto de mão?

Fernet ou Caipirinha? Maradona ou Pelé? Beijo ou aperto de mão? Muitos brasileiros não conseguem se acostumar com o tradicional beijinho na bochecha dos argentinos. Alguns têm uma certa ojeriza e outros um certo preconceito. Eu prefiro! É muito mais higiênico! Explico-lhes o porquê:

Imagine tudo que tu toca com tua mão. O teclado asqueroso, que todos metem os dedos com tatu, o botão do elevador, quanta gente não tocou esse botão hoje? A barra do trem ou a correia do ônibus? Imagine quantas mãos nojentas, putrefatas, cheias de ranho, saliva e sabe-se lá que outras coisas não passam pelas mãos dos cidadãos bonaerenses todos os dias! Chego a sentir um prurido pelo corpo só de pensar!

Isso acontece aqui, acontece em Porto Alegre, bah, acontece até no Pinhal, quando as pessoas enfiam as mãos no âmago da areia da praia, que cães, gatos e até humanos já usaram como sanitário!! Imagine a seguinte cena cotidiana: tu cumprimenta teu açougueiro, velho conhecido, com o tradicional aperto de mão. Por onde andaram aquelas mãos?? Revirando entranhas de animais mortos? E pra onde vai a tua mão depois disso?? Para sanar aquela coceira nos olhos, nariz, boca, nossa, na boca!! Este mesmo dedo contaminado pela perecida carne animal vai entrar na tua boca pra retirar aquele fiapo de abacaxi da gengiva, pois fiapo de abacaxi na gengiva incomoda demais para esperar por um fio-dental ou palito amigo. Não é nojento? Não é muito nojento?

Num país gelado, onde a Gripe A se espalha com velocidade, eu prefiro o célere beijinho no rosto. É simplesmente mais higiênico. O lábio mal toca o rosto, os rostos praticamente não se tocam. É quase um abraco de sogro, aquele que é frio e formal. Não vejo este lado piadista gay que os brazucas veem. Prefiro o Fernet à Caipirinha! Prefiro Maradona ao Pelé! Prefiro o saudável beijinho no rosto à ojeriza do aperto de mão.

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Argentinos e a tecnologia

Argentinos são contra a tecnologia. Eles literalmente pararam nos anos 60, 70 e 80. Às vezes até chegam aos anos 90, mas é só musicalmente. Não espere que um site responda teu e-mail na mesma semana, não espere o contato de uma página de facebook.

Mas uma coisa nós, os porto-alegrenses, temos que admitir: é muito bom entrar em qualquer bar, pub, café, restaurante e ter a conexão wi-fi liberada. Ter o mundo nas mãos. Beber uma cerveja artesanal tipo Ale, comer um hambúrguer de bacon e, ao mesmo tempo, falar com os amigos em qualquer lugar do mundo pelo netbook, como estou fazendo agora, enquanto escrevo esta, engordurando o teclado com os dedos gordurosos de batatas rústicas. Este vai ser meu escritório agora. Esta tecnologia me basta.

De resto, fico escutando a música dos 60 e 90 e fazendo perguntas pessoalmente.

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¿Qué pasa, Fábio?

As provas de amor ao longo da história

Desde que o mundo é mundo existe o amor. E desde que existe o amor existem provas de amor. E desde que existem provas de amor existe a necessidade dos seres humanos – principalmente do sexo feminino – de formalizar a relação.

Na pré-história, os homens já mostravam que eram homens e as mulheres que eram mulheres. Os relacionamentos funcionavam mais ou menos assim: o homem, com o interesse único de garantir a sobrevivência e a preservação da espécie, tentava copular com o maior número de mulheres possível. Tentava. Pois desde estes longevos tempos, a mulher já era mulher. A mulher escolhia o parceiro com quem reproduzir através de atributos físicos e psicológicos que garantissem a sobrevivência não somente da prole constituída, mas também dela mesma. Tipo assim, o cara tinha que ser o bonzão na caça, o melhor com a lança na mão, o que sabia fazer o melhor fogo, mas também tinha que ser carinhoso e artístico com pinturas rupestres. Aff, as mulheres, sempre querendo provas e mais provas...

Tanto é que, anos mais tarde, surgiu o anel. A aliança. O anel, aliança, surgiu entre os gregos e os romanos, tendo provavelmente por origem um costume hindu de usar um anel para simbolizar o casamento. Os romanos acreditavam que no quarto dedo da mão esquerda passava uma veia (vena amoris) que estava diretamente ligada ao coração, costume culturalmente seguido até aos dias de hoje.

No início a aliança era tida como um certificado de propriedade da noiva, ou de compra da noiva, indicando que a mesma não estava mais disponível para outros pretendentes - não que tenha mudado muito. A partir do século IX, a igreja cristã adaptou a aliança como um símbolo de união e fidelidade entre casais cristãos. A aliança passou a ser adotada também no estabelecimento de laços matrimonias os quais uniam também duas famílias. E aí temos o casamento, a maior formalização de união do mundo.

Usualmente, o amor manifesto entre um homem e uma mulher era expresso por meio de rituais sociais, sobretudo este, o casamento. Os pais eram responsáveis por ceder uma parte de sua propriedade (casa e terras) para o sustento e a moradia da nova família. Daí a ideia de casar os filhos (dar-lhes casa). Alguns casamentos eram, e ainda são, arranjados e comprados através de dotes.

O dote é um costume antigo, mas ainda em vigor em algumas regiões do mundo, que consiste no estabelecimento de uma quantia de bens e dinheiro oferecida a um noivo pela família da noiva, para acertar o casamento entre os dois. Embora bem mais raro, também há culturas onde o noivo entrega à família da noiva ou à própria noiva um dote; o exemplo mais conhecido deste costume é entre alguns povos muçulmanos. Hoje em dia o dote está no extrato da conta do cartão do banco...

Uma mulher que não possuía dote era preterida pelos noivos na escolha para se casar. Apesar de ser mais comum entre as camadas mais ricas da sociedade, o dote também era um costume dos pobres, o que muitas vezes colocava a família da noiva em grandes dificuldades financeiras. Mesmo sendo considerado uma atitude ultrapassada, é praticado em vários locais mais tradicionais e rústicos. O dote está intimamente ligado ao casamento por contrato.

Mas o casamento também servia para unir famílias e reinos. Era normal os casamentos por conveniência, para que alguém tomasse o trono, mesmo que não houvesse amor envolvido. Para não deixar o poder sair do controle da família, era normal até o casamento entre irmãos, primos e até pais e filhos. Como no caso da encantadora Cleópatra da Macedónia.

Cleópatra casou-se com o seu tio Alexandre I de Épiro (ela teria dezoito anos e ele cerca de vinte e oito), tendo o casamento servido como uma forma de reaproximação entre a Macedónia e Épiro. Cleópatra mais tarde seduziu homens de importância colossal como Julio César e Marco Antonio (novamente a mulher querendo sempre os que se destacam mais), talvez por sua grande habilidade em uma específica prática sexual, a felação (não entremos nos pormenores).

Outra famosa prova de amor histórica se deu no casamento de Alexandre, o Grande, com Roxana. Um banquete de casamento foi organizado no alto de um dos rochedos Sogdian, onde Alexandre e a sua noiva partilharam um pão (que Alexandre, caracteristicamente, teria cortado com a sua espada), um costume ainda hoje existente no Turquistão. Coisa simples! Compartilhar um pão! Isso sim é prova de amor de verdade, não estourar o limite do cartão de crédito no dia dos namorados.

Pior que estourar o limite do cartão de crédito no dia dos namorados, só o que fez Van Gogh pela mulher amada. Perdidamente apaixonado pela meretriz Rachel, Van Gogh se dirige ao prostíbulo local, correndo pelas ruas de Arles, na França. Ela logo percebe que a orelha esquerda do pintor está sangrando. Ele entrega um lenço ensanguentado à prostituta e lhe pede para guardá-lo. Um lenço com a orelha de Van Gogh! Um presente mais valioso que qualquer bijuteria. Ainda bem que a moda não pegou...

(Mais sobre esta história nesta antiga crônica minha http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/1968683)

E, finalmente, talvez a maior prova de amor do mundo. Até por que esta não foi para impressionar a mulher amada. Foi construído após a morte da mesma. O mausoléu Taj Mahal, em Agra. Considerado a maior prova de amor da história, diz respeito ao mausoleu que o Shar Jahan construiu para sua amada Mumtaz Mahal, que lhes deu 14 filhos e faleceu no último parto. A obra foi feita com a força de cerca de 20 mil homens, trazidos de várias cidades do Oriente, para trabalhar no sumptuoso monumento de mármore branco que o imperador Shah Jahan mandou construir em memória de sua esposa favorita, Aryumand Banu Begam, a quem chamava de Mumtaz Mahal ("A joia do palácio").

Joias, orelhas, alianças, pinturas rupestres, dotes, impérios e até mausoléus. Tudo isto um dia foi prova de amor e de formalização de relacionamento. Hoje, nos tempos do Facebook, a coisa é bem mais simples. Basta alterar seu relacionamento para “em um relacionamento sério com ...”. É tudo que a mulher deseja, é um símbolo maior de união. Te cuida, casamento...

Estes dias, alterei o meu status de relacionamento e creio que a repercussão em minha timeline ou no meu in-box foi maior do que se eu tivesse cortado a orelha ou mandado construir um mausoléu.

Fábio Grehs
Enviado por Fábio Grehs em 30/07/2013
Código do texto: T4411082
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