Esperando o sinal abrir...

Até que enfim um céu limpinho. E de presente uma lua minguante clarinha que me acompanha.

Gosto das manhãs, antes dos congestionamentos. Gosto de ver as pessoas andando, todos parecem com pressa, soltando fumaça quando respiram, com os cabelos molhados, com os fones de ouvidos, mulheres de salto alto passando por essas calçadas tão irregulares...como é que conseguem?

A maioria das portas comerciais estão fechadas, mas já escuto aquele som característicos das portas de ferro sendo levantadas. Vejo uma fila de sobrados que já foram residencias, e surpresa, uma pequena vila entre elas.

Como em uma crônica de tempos idos, revejo quatro meninas em um pátio sentadas como os índios, com uma diferença de sete anos entre a maior e a menor, essa mal saída das fraldas mas fazendo parte do grupo, vestidas com roupas do mesmo tecido e estampa, costuradas pela avó, parecendo personagens do filme "A noviça rebelde", brincando e recitando:

"Nós quatro

Eu com ela, eu sem ela,

Nós por cima, nós por baixo..."

Batendo as palmas, de uma irmã com a outra, repetindo a cantiga cada vez mais rápido até as mãos ficarem vermelhas e ardidas e as vozes roucas de tanto gritar.

Saio do devaneio, com o barulho que uns pequenos nóias fazem batendo nas latarias de alguns carros parados no sinal. A turminha atravessa correndo, como um pequeno poetrix...

"Não me amola

Me dá esmola

prá eu cheirar cola"

Vestidos com bermudas, alguns com moletons rotos, tenis ou simplesmente de chinelos de dedos saem correndo pela avenida, atraindo meus sentimentos de pena e de medo...uma vez, parada no sinal, uns garotos tentaram abrir a porta do meu carro.

E do nada, volto à pequena cantiga...

"Nós quatro.

Eu com ela.

Eu, sem ela.

Nós...por cima,

nós... por baixo."

E com o coração aos pulos me pergunto:

Quando foi...que a inocência foi embora?

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lilla wood
Enviado por lilla wood em 30/07/2013
Reeditado em 30/07/2013
Código do texto: T4411047
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