Desabafo, confissão e mensagem aos filhos

Havia, pelo menos, uns dez dias que não dormíamos em paz por causa da síndrome do pânico e um ano e meio de sofrimentos com outras doenças.

Quarta-feira ela me pediu para levá-la ao culto, no qual ela se alegrou na presença do Senhor e ficou feliz por adorarmos juntos a Deus.

Chorei ao seu lado.

Quinta-feira, um surto de pânico novamente a atormentou e chamei o pastor que veio e orou. Ela dormiu e ficou em paz naquela noite. Comprometi-me a procurar o médico na manhã seguinte para tentar um remédio que a fizesse se acalmar, pois o que ela tomava só lhe causara transtornos emocionais e psíquicos com tantos efeitos colaterais. A consulta seria à tarde de sexta, mas não houve tempo hábil.

Sexta-feira, 26 de julho de 2013, aproximadamente às três da tarde ela pediu para ir ao banheiro, levei-a, como fazia há um ano. Amparei-a muitas vezes em cima do vaso. Ela começou a se desesperar. Tentei abraçá-la, pedi para que se acalmasse. A princípio não percebi, mas seu coração estava parando. Muitas vezes estivera nas mesmas condições, mas minutos depois se acalmava sempre que conseguia aliviar-se. Só que desta vez não foi assim. Começou a mudar de cor e a falta de ar fez sua boca espumar. Estava nos meus braços. Entrei em desespero e liguei para o socorro, que devido à burocracia, desisti e joguei o telefone dentro do carro deixando o atendente falando sozinho, enquanto a arrastava para o banco do passageiro, na esperança de chegar a tempo no hospital. Infringi tantas leis quanto foram possíveis de infringir no percurso. Gritei por socorro na porta da emergência do hospital. Eles a reanimaram por alguns minutos, mas ela resolveu partir, pois preferiu descansar e, também, de certa forma, me dar descanso.

Estava a ponto de desistir de meu emprego, bater de porta em porta e pedir ajuda para poder cuidar dela, mas acho que ela não quis assim, ou havia uma data marcada no relógio de Deus.

Eu a amava muito, mas sei que ela me amava mais do que a própria vida.

Sinto por ter sido, muitas vezes, injusto com ela, como muitos filhos o são.

Nos últimos dias de sua vida, dormi com ela tentando aquecê-la e fazê-la se sentir melhor, mas uma vez, confesso com dor, vergonha e muita, mas muita tristeza em meu coração. Ela pediu por favor para deitarmos juntos, mas a canseira, o desgaste e o egoísmo, natural do ser humano, falou mais alto, e deixei-a em meio a um surto de pânico.

Outra noite, ela pediu para que eu tocasse violão, como fiz algumas vezes, mas não o fiz, pois ela apresentava momentos de clara lucidez e, nesses momentos, minha canseira e exaustão emocionais falavam muito alto. ­­

Dia 26 de julho é o dia em que se comemora o dia de Ana, que foi mãe de Maria, que gerou a Jesus. Com isso, comemora-se o dia da Avó e minha mãezinha, que também era avó, também chamava-se Ana.

Parece que ela escolheu essa data.

Era seu dia.

O dia de seu descanso.

O Dia da Ana.

Ana Tolvai

16/01/1952 - 26/07/2013