COLEGA DE TRABALHO - V

 
                    Hoje é o quinto dia da semana, (ontem) sou o primeiro a chegar. Estou de olho pregado na porta. Mais gente está chegando e ela não aparece. De repente meu coração tem um pique e o escritório se ilumina; fico atento para ouvir o bom-dia quase inaudível e sem direção. Tento capturar o perfume e a leve brisa feita pelo corpo doce passando quase esbarrando em mim. As coisas não são como eu gostaria que fossem, meu Deus! Daria tudo para ser a cadeira que ela acaba de sentar-se perto da janela. Ainda não faz um mês que está aqui, mas já me deixou atordoado. Tenho olhado para seus olhos espertos e lindos, mas não sou visto —, estarão cegos para mim? Nada disso importa! O rosto macio, a janela aberta para um mundo feliz, me acompanha, não sai da minha cabeça. Toda feiúra que existia ao redor foi varrida pela existência desse ser. Sinto um amor silencioso e o guardo carinho no peito. Navegando perto da luz, a tarde acabou de chegar. Não consigo senti-la e vê-la como de manhã, já está agitada; dessa vez não será apenas uma noite, mas um fim de semana. O fim de semana que sempre foi curto, com certeza não vai terminar nunca. Estamos saindo. Fico bem próximo dela. O coração acelera. Se estender o braço a minha mão toca-lhe a cintura.
— Desculpe-me! — sem o meu consentimento, minha mão cutucou-lhe as nádegas levemente arrebitadas.
Os olhos espertos e lindos viram-me por sobre o ombro e os lábios sensuais não se abriram para falar uma palavra sequer.
Ela seguiu pela rua movimentada e eu fui para o meu canto solitário. Gostaria de entrar num sono profundo e só acordar na segunda-feira. (Jorge Lemos)
Silva Lemos
Enviado por Silva Lemos em 29/07/2013
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