ACONTECEU NAS MINHAS FÉRIAS

Finalmente era chegado o momento mais esperado do ano. E como havia planejado há meses, faria a tão sonhada viagem à Taíba-CE, para o merecido descanso com a família. O apartamento ficaria bem, passada a chave, com seus pertences bem guardados. Isso não significava grande preocupação, o importante era a família reunida.

Sol, praia, comidinha gostosa, tudo na companhia do maridão e do seu filho amado. A paz reinando naquela visível e convincente perfeição. Uma vida completamente descompromissada. Nada de relógio de ponto, chamadas telefônicas incessantes, atendimentos, agendas, passagens, reuniões... Nada disso! O momento era para descansar. Eram dias destinados à recarga das baterias.

Primeiro dia, pelo menos seu início, dedicado à organização, abastecimento da despensa, bebidas na geladeira, arrumação dos quartos e, a partir de então, só alegria e muita festa. No segundo dia muita praia, banho suficiente para se lavar até a alma. Sono tranquilo, de muitos sonhos. Vida abençoada!

No terceiro dia, uma turbulência qualquer fez sacudir aquela normalidade. Ao acordar, percebeu a ausência do marido, mas logo se tranquilizou, ao ouvir sua voz, vindo de fora. Pouco tempo depois, entra o homem assustado, num comportamento que demonstrava pressa, dizendo que estava indo pra Fortaleza. Ainda sonolenta, não entendeu nada, procurando se inteirar do que estava acontecendo.

Por telefone uma vizinha informara que possivelmente havia ladrões no apartamento do casal, afirmando ter ouvido vozes e o som de móveis sendo arrastados. De súbito pensou em seus bens, seus eletrônicos, suas coisas que tão cuidadosamente guardava em casa... Por instantes o cérebro saiu de cena, cedendo espaço à emoção, que num balanço relâmpago, contabilizou todo o prejuízo: veio à imaginação a casa toda estropiada, uma bagunça só, portas e gavetas abertas, roupas espalhadas pelo chão, peças fora do lugar, sujeira e muita desordem.

Mas, num piscar de olhos, voltou à razão e lembrou-se do que poderia ser a grande charada. Nada de assalto, nada de invasão. Estava tudo sob controle, pensou ao respirar fundo, voltando ao sossego de antes. Lembrou-se que naquele dia estaria em sua casa a faxineira, acompanhada do seu marido, que a ajudaria a levar a roupa para lavar, conforme haviam combinado.

Até o desfecho do mistério, a polícia já havia chegado ao apartamento, atendendo ao chamado da vizinha, que fez a denúncia de que estava acontecendo um assalto. Através do portão de entrada, os policiais fizeram a abordagem ao senhor, que se identificou como esposo da faxineira. A pobre mulher pediu que o marido não abrisse, temendo que aqueles homens fossem ladrões disfarçados. Convencida de que eram realmente policiais, respondeu ao “interrogatório” confirmando dados solicitados, como nome, idade, e o nome do proprietário do apartamento.

Aparece em meio à confusão a vizinha que acionara o Ronda. A causadora de todo aquele tumulto. Vigilante, e sempre atenta aos ruídos da vida alheia. Dona Virgínia, a faxineira, ainda soltou um desabafo, como forma de protesto: “Não precisava disso tudo!”

Atentos à atitude indignada daquela senhora, os policiais se entreolharam com certo ar de riso, pediram desculpas e deixaram o prédio.

***

Lições de tudo isso? A vizinha se precipitou? Agiu mal? Queria ajudar e acabou gerando uma confusão? Os policiais investigando o casal, e o casal fazendo o mesmo, com medo que eles fossem ladrões disfarçados... medo, insegurança, mal-entendidos, equívocos e ação movida ao achismo? Olha quantas reflexões!

*Essa história aconteceu com uma amiga e ela me permitiu narrá-la.

Maria Celça
Enviado por Maria Celça em 29/07/2013
Reeditado em 29/07/2013
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