O Veneno
Lembro-me que em certo episódio da série "Guerra dos Tronos", o personagem Eddard Stark, ainda vivo, afirma que o veneno é a arma de uma mulher, ou de um covarde. Não vou correr nenhum risco de ofender alguém, manifestando-me sobre a primeira metade da frase, mas devo concordar totalmente com a segunda.
Também me inclino a concordar com o escritor Jack London, que em seu livro e obra-prima "Caninos Brancos", ao introduzir o vil personagem "Beleza" Smith, define-o como um covarde, por revidar em um animal todo o seu ódio e frustração com a humanidade e da humanidade. E, também válido afirmar, que o animal que era açoitado, sem nada ter feito era um lobo, feito cachorro por sua criação.
Um Canis lupus familiaris, domesticado por nossos antepassados há mais de cem mil anos e, desde então, fiel companheiro da humanidade em sua jornada pela Terra. Um cão, esse animal tão belo e nobre, possuidor de inúmeras raças e em todas afável, sincero e companheiro.
Como medir então a covardia de quem envenena um cão?
Tal como foi envenenada Rabo Fino, uma cadela viralata cujo pelo era malhado em vários tons de castanho. Uma vítima da humanidade, que fora abadonada nas ruas e depois resgatada para viver uma calma vida no sítio.
Há pouco mais de uma semana, Rabo Fino cruzou as cercas deste sítio. Seu único crime foi ansiar pela liberdade de seus ancestrais; correr e caçar sem que nada, nem muro, nem cerca, nem corda ou coleira, interrompesse seu movimento.
Mas ela não viveu o suficiente para arrepender-se, pois, nos sítios próximos, alguém pôs armadilhas de veneno para neutralizar, através da covardia e da morte, qualquer ameaça aos seus próprios animais.
Como dizer quantos cães já morreram assim? Rabo fino foi apenas mais uma, encontrada fria no chão, à poucos metros do lar para o qual já retornava, onde suas companheiras Bolinha e Preta e Lilica a esperavam.
O mais triste dessa história, entretanto, foi o comentário daquela que sempre criou Rabo Fino, D. Izildinha, que me disse: "Meu filho, essa não foi a primeira vez que isso aconteceu não. Aqui no sítio todos os cachorros que tivemos morreram atropelados ou envenenados. Nunca nenhum conseguiu morrer de velhice".