Futuro é comum quando se torna presente
Olhar pra trás é sempre engraçado. Você vê o quanto o tempo se passou e que as coisas que você imaginava para o futuro, durante o passado, se tornam totalmente comuns quando estão no presente. Explico. Quando tinha lá meus oito anos de idade (acho que era por aí. Se não era, era próximo disso), ficava imaginando como seria quando chegasse o ano dois mil. Claro que como muitas crianças da época, também tinha medo de presenciar o apocalipse e ver o mundo acabar com grandes bolas de fogo. Tudo que eu não queria era ver uma besta fera de sete cabeças.
Esse medo de ver o mundo acabar foi alimentado por um primo meu que é bem mais velho e que na época entrou para uma seita religiosa. Depois disso o cara enlouqueceu. Queria pregar suas teorias para todo mundo na base do medo. Quem não congregasse com seus pensamentos estava condenado a passar a eternidade no inferno abraçado com o cão. O pior é que o único livro para ele era o apocalipse e eu como uma criança curiosa me interessava em ouvir as “revelações” sobre o futuro, mesmo que isso custasse dormir com medo e acordar com o colchão molhado todas as manhãs.
Mas mesmo vivendo com esse constante medo, eu tinha, no fundo, no fundo, a esperança de que o mundo não iria acabar. Tinha uma ínfima certeza de que iria ver o dia primeiro de janeiro do ano dois mil e comemorar o aniversário de minha mãe (ela faz aniversário no primeiro dia do ano). Então, me pegando a essa certeza, eu me dava o direito de sonhar com o ano mais esperado que já vi. Até os programas de TV, principalmente o Fantástico, faziam questão de especular sobre a extinção da humanidade, falando de profecias, nas quais estavam também incluídas a de Nostradamus.
Eu sonhava com o fato de chegar aos dezesseis anos de idade. Ano dois mil seria o ano que completaria meu décimo sexto ano de vida... E era mais ousado, pensava além. “Cara, como será em dois mil e dois, quando tiver dezoito anos?” “Poxa! E em dois mil e cinco? Vou ter vinte e um...” Quando criança, ficava imaginando que seria gigante aos dezesseis. Seria um poço de maturidade e que a partir daí estaria pegando todas as mulheres que quisesse. Aos Dezoito, faria tudo que quisesse na vida porque seria maior de idade e aos vinte e um ninguém me frearia, porque seria livre demais e totalmente independente.
O mundo não acabou e todas essas idades se passaram. Vejo que muitas dessas coisas aconteceram e muitas não. Tornei-me independente, mas não fiquei com todas as mulheres que queria. Criei outros valores e não fiz tudo que imaginava, apesar de prezar sempre pela liberdade, além disso, não estou rico como também sonhava. Maturidade? Busco conquistar mais a cada dia, porém, de vez em quando, me pego cometendo erros de criança. O futuro se tornou normal quando virou presente e agora fico a imaginar quando chegar dois mil e quatorze, quando tiver trinta anos. Espero que o mundo ainda esteja dando para se viver e eu seja tão feliz quanto sou hoje.