Leve como a Pluma
A tarde fria anunciava que o inverno, enfim, chegara. A chuva teimara em cair timidamente durante todo o dia, depois de ter realizado vários estragos na capital paulistana durante toda a madrugada. No momento não chovia e eu estava saindo do trabalho, cansada, mas satisfeita. Na esquina da Rua Consolação com a Rua Matias Aires eu esperava o carona de um amigo,entretanto o congestionamento monstro que tomara conta da cidade naquele momento, causado, além do excesso de veículos para o momento, por duas manifestações, uma pela Rua da Consolação contra o ato médico e a outra contra a permanência do Marcos Feliciano à frente da Comissão dos Direitos Humanos, deixara o trânsito ainda mais caótico. A espera me impacientava e nada do meu colega chegar, pois ele estava preso naquele emaranhado de carros a sua frente.
Tentando evitar a fadiga da espera, eu observa o nada e o meu pensamento divagava a milhões por hora. Eu analisava a minha vida, as minhas escolhas e o rumo que a vida tomara. Feliz com algumas coisas, neutras em algumas e noutras, um tanto insatisfeita... Não consegui chegar a uma conclusão sobre o que eu analisava e nem me lembro ao certo o que eu pensava, pois a minha atenção foi totalmente voltada para uma cena. Cena bucólica, romântica e linda!
Vinha se aproximando de onde eu estava um casal. Um casal comum, um menino e uma menina, dois adolescentes e muito sentimento. Ele tinha estatura mediana, de cor morena clara, cabelos pretos, magro e no rosto as espinhas indicavam sua pouca idade. Os cabelos pretos estavam em desalinho, seu jeito era despojado e leve. Ela, um pouco mais baixa, tinha a tez clara, cabelos castanhos, jeito também despojado e leve e também tinha espinhas no rosto, o que anunciava a sua adolescência primaveril. Pararam ao meu lado, esperando o semáforo abrir para atravessarem a rua.
Mas aquele momento era de despedida... Ele, com uma atitude impressionante pela sua inexperiência de menino, surpreendeu-me. A sua pegada, a forma como enlaçou a cintura franzina daquela moça e lhe beijou foi de uma segurança nada típica dos adolescentes apaixonados e inseguros de si. Segurança e paixão. Amor e proteção. Cuidado e zelo. Essa foi a minha percepção daquela cena. O sinal se abriu e ele a olhou nos olhos mais uma vez, foi soltando a sua mão vagarosamente, como se quisesse não soltá-la jamais. Ela, na ponta dos pés, com um olhar travesso e apaixonado, esperava, atônita, imóvel, o seu amado atravessar a rua e desaparecer na esquina seguinte.
Passados alguns segundos, poucos, talvez umas 5 ou 10, ela recolheu o sorriso largo do rosto, mantendo-o no canto do lábio e em seu coração e foi andando em direção ao seu destino, leve como uma pluma. E eu acompanhei aquela cena até a tal moça, feliz e apaixonada, perder-se na multidão.
Poderia ter sido apenas mais uma cena, das tantas que presenciei sem ao menos prestar atenção, mas aquela, em especial, chamou-se a atenção pelos arroubos da paixão juvenil. Quem nunca experimentou este sentimento fumegante, fervendo e varrendo tudo dentro do peito? E não é um privilégio dos jovens enamorados, afinal, não há idade para ser feliz, para estar feliz e para apaixonar-se!
São Paulo, 26 de junho de 2013.