CARTA

Um dia eu pedi para o velho Venâncio me contar uma história de amor, mas de um amor muito grande, arrebatador. Destes que envolve e leva até a loucura; porque eu apesar da minha idade eu me apaixonei por uma menina cigana, que passou pela nossa fazenda e pediu abrigo aos meus pais por uns dias; porque ela estava de passagem e ia para muito longe se juntar a sua tribo que estavam em Goiás.

Eu nunca podia imaginar que alguém pudesse fazer a loucura que pensei fazer. Fugir com ela. E só não o fiz porque a Ciana; era como chamava a mulher, a mãe da Badu. (CIANA.- SENHORA ANA) Não permitiu. É claro que não podia concordar com aquela loucura e medo das conseqüências que adviriam. Seria acusada de roubo de uma criança.

Então o meu GURU o velho Venâncio disse: eu vou lhe contar uma história de amor. Cuja foi comentada por muito tempo pelo tipo de gente que eram. Uma família maravilhosa! Foi considerado lamentável o que ocorreu porque perderam uma gente muito rica que estavam dispostos ajudar muito na evolução daquele lugar ( cidade.)

Havia nesta família um rapaz; trazia consigo uma educação refinada, até parecia pernóstico. Era o que parecia a primeira vista.

. Mas na verdade eram pessoas de educação diferente da nossa; principalmente pelo modo de se expressarem. Eram até antipáticos por falarem um português refinado, bem falado!

Tentarei dar-lhe a impressão de como eram e como aconteceu! Disse-me o médico, Dr. Rogério. “O rapaz procurou-me para fazer uma consulta." Dr. tenho uns deslumbramentos n´ alma ... Que esfinge é essa moça de apenas quatorze anos! Virgem, que o severo pudor vela quando fala de amor; com a franqueza e a alma de quem já dele saciara. Compilação precoce dos sentimentos! Não... Penso eu! Deve ser a ingenuidade da inconsciência... Ás rosas da sua alma não pode, coração puro de paixões e ermo já de esperanças! Seria a ter assim murchado na primavera da vida; estão apenas em botão, que desmaia, é a sombra da infância ainda, e não o verme do coração, a dúvida! Eu amo esta menina, sem saber. Comecei adorá-la. Quantas horas encantado passo pensando no grande amor que poderia viver, mas na minha memória, vive o seu desdém! Agora eu o compreendo. Eles revelam a tormenta de uma paixão nascente no seu coração infantil que tolda o amanhecer da sua vida para dias negros que possa em uma paixão descortinar! Com as tempestades dos primeiros dias do ano! Ela tem medo de amar, e eu ser amado por ela...Talvez amava-me, mas resistindo, ainda... Meu Deus! Exclamei...Que fiz eu para tanta felicidade? Uma circunstância unicamente me parecia obscura depois da confidência da Ires. Era a maneira por que me tinha recebido a primeira vez depois das minhas tentativas vãs. Após aquele olhar fulgurante de cólera. Não havia nos seus olhos, no entanto, despeito, só repulsão, que pareciam ódio e rancor profundo. Uma vez pedir-lhe explicação desse olhar: ela enrubesceu - Não pergunte isso!...Não lhe direi nunca! Dois dias depois da nossa conversa no bosque aonde ela ia sempre meditar, e ficar a cismar, e era um meio de esconder, e afogar os seus sentimentos. Eu ia cheio de elevo de tão sonhada esperança inundado da felicidade que borbotavam em meu seio...Já assim transbordado dilúvio de imenso amor que ansiava por me arrojar aos seus pés. E bastou a sua presença para confranger de súbito as enérgicas expansões de minha alma. Ela respondeu o meu cumprimento com afabilidade; mas era a mesma afabilidade que dispensava a turba dos seus admiradores! Mas eu achei doce o passado desdém que ao mesmo me distinguia!

Senhor Deus interrompi. Que paixão abrasadora GURU!

- Como eu nunca havia visto, nem ouvido falar, acudiu o Dr. Rogerio!

- Continua doutor. Esta pode dizer paixão ou loucura!

Então continuou ele:

Iris mostrava ter completamente esquecido, quando entre nós houvera três dias antes! Um dia no correr da noite quis falar-lhe: Vendo-me aproximar, toda sua pessoa envolveu-se de repente na frieza glacial que de longe já me tinha congelado as palavras nos lábios. Essa menina cheia de graça e vida, tinha o mágico poder de fazer-me mármore quando queria.

Nessa noite ela retirou-se mais tarde do que tinha costume. Ao sair passou junto de mim sorrindo: - Não quis hoje conversar comigo, disse com um doce enfado!

Faz idéia doutor, do pasmo em que fiquei?

- Sabe Dr. Rogério; Iris continuou a ser para mim a esfinge. Encontrava sempre o mesmo acolhimento de sempre, gelo na fronte e sarcasmo nos lábios. Por alguns momentos ela veria sobre mim, um olhar ou alguma palavra e ternura na sua alma. Mas depois quanto azedume não me custava aquelas gotas de mel!

Numa noite, o senhor se lembra quando pelo aniversário da sua irmã, a minha família foi convidada, e teve a maior decepção com á Iris, a ponto de se mudarem daqui para que eu não sofresse mais humilhação.

- Realmente eu nunca entendi, disse o Dr. Rogério; por que seus pais mudaram, estavam tão bem assentados nos negócios, e de repente resolveram ir embora!

- Foi por isso!

- E o que aconteceu naquela noite, perguntei!

- Foi á gota que transbordou. Iris continuava me ignorando. Por mais que fizesse para lhe chamar a atenção, era inútil!

- O baile começou, lembro-me do esmero da iluminação preparado pela suas irmãs!

- Todas as moças estavam deslumbrantes, mas Iris estava divina! Convidei-a para uma dança. Ela com uma ponta de mesura, concedeu-me mas não era aquela contradança que seria a minha, por que ela já estava de braços com o deputado Lemos! Então ela disse ao seu companheiro. O senhor me permite, deixando o braço do lemos e pegando no meu braço.

Creia que se enganou Iris. Esta não era a minha contradança!

- Parece-lhe? Acudiu sorrindo como se estivesse sido livre de um peso!

De certo, só por um engano me podia dar este prazer. Eu não me animava a pedir-lhe uma contradança.

Pois foi você que se enganou. Eu estou lhe dando esta contradança sem você ma pedir.

- Como me podia pensar numa grande felicidade!

- Pôr que? Por dançar comigo? Meu Deus! O que é felicidade para os outros umas tão pequenas coisas! Que eu...

- E você?

- Eu ainda não encontrei na minha vida.

- Não diga isso Iris, Você não é feliz?

Naquele momento havíamos chegado ao terraço e no elevo, não percebi que estávamos sendo observados pêlos meus pais que aproximaram e conseguiram ouvir a conversa!

- Não sou feliz, disse Iris descaindo-lhe a fronte. Nada daquilo que o mundo pensa que está á felicidade, eu não consigo encontrar em nada, nem em ninguém, o que todos encontram a cada momento... O que os outros acham de felicidade, para mim não passa de uma ligeira emoção! É com um simples sorriso que desponta da minha alma, mas logo sinto que aquilo foi apenas um sonho de felicidade e tudo se desfaz, matando aquele raio de luz que nasce dentro de mim e morre, como se um abismo se abrisse. Procuro minha alma nesse vácuo imenso e não sinto! Iris falava maviosa e triste. Nesse momento ela pôs os olhos em mim disse: Eu sei que para você conquistar-me seria a sua felicidade completa, quanto para mim, sonho irrealizável, uma aspiração vaga e indefinida! (claro que não era palavras da Iris).

Pode ser, disse descansando. Meu coração se partiu desmanchando a doce ilusão nascida a pouco com aquele oferecimento tão gentil de uma contradança!

Iris pouso novamente o olhar em mim e com uma vós sumida disse com uma placidez esmagadora: - Eu não o amo!... Depois, como para abrandar a dureza destas palavras, adoçou a vós para acrescentar: - Não o amo ainda!

- Não sei só Deus o sabe! Foram as últimas palavras que o meu coração consegui ouvir!

Retirei - me para sempre, apesar de que o meu anseio era de ficar perto dela e sofrer pelo seu amor!

- Então doutor, reuni o resto de alento que dispensava para dizer-lhe apenas num fio de vós. Eu compreendo agora os poetas que eu não compreendera nunca! Fala-me assim meu amigo por que não me ama! Como não fiquei ao ver-me aquela menina mulher exultando de júbilo e orgulho ali, em face de mim, que pensava ter-me humilhado com o seu frio sarcasmo! Acrescentei, mas não para magoá-la, para castigar-me, talvez fosse esta a intenção ." O fato é que vivo na sua alma ! E como não pode arrancar-me dela, procuro rebaixar-me aos seus próprios olhos humilhar-me para ter a força que não tem de me desprezar!

O rapaz com esta conclusão; levantou-se orgulhosamente, para dar fim a um grande amor de que na realidade não a considerava a altura!

- Realmente, doutor, este rapaz era realmente um simplório.

- Era, e muito fina a sua educação não compreendida por muitos pelo seu estilo clássico de falar. Não só ele como toda a família! Foi pena não terem ficado no nosso convívio. Assim nos lembrava de que necessitamos aprimorar no nosso idioma, por que ele é muito bonito e rico!

Aí tem rapaz, um episódio da vida da Iris, o qual ela deseja esquecer, e isso a faz amarga, e também por isso deseja castigar o mundo por um erro da sua adolescência.

- Mas ela não teve culpa de não amar o rapaz!

- É sim, mas ela se julga culpada por que os pais dele a fizeram ver assim, e também por mudarem daqui!

- Coitada da Iris ela tinha razão de sobra para ser amarga disse ao meu GURU!

- É verdade pobres meninos!

NOTE: ISSO ESTÁ NO 4º CAPÍTULO DO MEU LIVRO “O VIANDANTE DE ITAPORANGA”

Lício Guimarães
Enviado por Lício Guimarães em 28/07/2013
Reeditado em 01/08/2013
Código do texto: T4408532
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