LONGEVIDADE
É fato que tem aumentado a expectativa de vida do ser humano e a ciência trabalha para que aumente, também, a sua qualidade. Já se fala em alcançar a marca referencial dos cem anos e, aí, casos como o de Oscar Niemeyer não seriam mais exceção. Atingiríamos a quarta idade.
Eu gostaria de pertencer a essa elite de matusaléns, rodeado de bisnetos e tetranetos. Mas, por outro lado, fico um pouco assustado com algumas notícias envolvendo idosos por esse mundo de Deus. Num asilo de Juiz de Fora, por exemplo, um interno de 86 anos foi morto pelo colega septuagenário. Entre rugas e rusgas, os dois sacaram suas muletas (uma de metal, a outra de madeira) e travaram um duelo fatal. Segundo testemunhas (da mesma idade), ambos disputavam um comprimido azul que havia escapado da mão trêmula de um deles e rolado pelo chão.
Na Itália, aos 99 anos, Antônio (opa!) pediu divórcio após 77 anos de casamento porque descobriu que a mulher teve um caso nos idos de 1940, em plena segunda guerra. Enquanto as bombas estouravam do lado de fora, Rosa (lindo nome) desabrochava e gemia do lado de dentro. E guardava as cartas do amante num gaveteiro antigo, relíquias descobertas pelo marido 60 anos depois, ainda com o cheiro do combate. Chifre não prescreve, respondeu ele quando uma multidão de filhos, netos e bisnetos tentaram dissuadi-lo da ideia separatista. E só lhe restou o título de homem mais velho a entrar com um processo dessa natureza.
E agora o caso mais singular: um ginecologista americano afirmou ter encontrado o controvertido ponto G feminino, chegando mesmo a divulgar todas as características do achado: forma, posição, estrutura anatômica e “paredes que se assemelham a tecidos fibroconectivos e eréteis”. E como esse candidato ao Prêmio Nobel descobriu tal tesouro? Dissecando o cadáver de uma mulher de 83 anos, 24 horas após o falecimento. Ora, nessa idade, em que todos os órgãos funcionais do corpo (inclusive o útero) já se retraíram, e nessas condições (rigidez cadavérica), ele não fez uma descoberta científica. Fez uma escavação arqueológica. Ao final, o necrófilo prevê que a sua incursão intramuros (eu diria violação de cadáver) causará impacto “no campo da função sexual feminina”. Tremenda sacanagem e falta de respeito: escarafuncha o corpo da anciã, como cobaia, e proclama um benefício que ela mesma não vai usufruir, a não ser em outra encarnação. Eu, pelo menos, nunca ouvi falar de orgasmo post mortem. Vocês já ouviram?
Pelo sim e pelo não, vou proibir, no meu testamento, exame de próstata depois da extrema-unção. Vai que... Vai que o tal americano resolve mudar de especialidade e venha para o Brasil como urologista no programa Mais Médicos do governo federal. No caso, urologista anal-fabeto. Comigo não, Salomão!