O gigante despertou?
O Gigante Despertou?
Jorge Linhaça
Nos últimos meses o povo ganhou as ruas e passou a manifestar-se democraticamente contra toda sorte de mazelas politico-econômico-sociais, abrindo um leque que engloba não apenas aspectos legais mas também morais da atuação política de nossos representantes.
Até aí poderíamos ter reais razões para comemorar, pois foi um movimento da sociedade e não de partidos políticos, que se fossem bons não seriam partidos, mas sim inteiros, ou que deixariam a população mais feliz se já tivessem realmente partido para longe daqui.
A grande questão não respondida está em o que a população realmente deseja. Passado i impacto inicial as manifestações esfriaram e tornaram-se mais pontuais, com menos integrantes e com muito mais baderneiros, estranhamente poupados pela policia de uma ação mais efetiva e, ao mesmo tempo, alegremente recebidos por advogados da OAB quando conduzidos às delegacias. O engraçado é que no inicio das manifestações, quando esses baderneiros ainda não se haviam infiltrado, a policia chegava o sarrafo nos manifestantes e a OAB estava dormindo em casa. Agora que é bastante fácil distinguir baderneiros de manifestantes, a policia assiste de longe o quebra-quebra, a depredação do patrimônio público e privado para agir horas depois. Aí quando alguém fala, como já ouvi muita gente dize, que a polícia corre de bandido e só gosta de bater em trabalhador, os “heroicos policiais” se sentem ofendidos. Mas permanecem ofendidos e não encarando os coquetéis Molotov, pedras, martelos e barras de ferro, afinal, ao contrario dos trabalhadores, esses baderneiros com certeza partiriam para o confronto.
Aliás, pelos vídeos que circulam pela internet, alguns desses baderneiros são policiais infiltrados, o que suscita duvidas sobre a motivação desses grupos e põe em cheque exatamente o fato de a polícia recuar diante dos mesmos.
Apesar das loas contadas sobre o movimento popular deflagrado no inverno brasileiro, as mudanças até aqui foram pífias, os políticos já deram seu jeitinho de fazer-se de surdos e continuarem na sua farra de sem vergonha na cara.
O problema é que o brasileiro, como herança da ditadura militar, desaprendeu de pensar, de manter uma posição sistemática em relação a alguma reinvindicação. E, exatamente por isso, alguns grupelhos de doentes emocionais, viúvos da ditadura, conseguem ainda ser ouvidos por alguns néscios que não se preocupam em analisar os fatos, limitando-se a dar atenção aos vociferantes arautos do caos. Há pelo menos 10 anos que leio as mesmas cartas, crônicas e artigos, pintando o Brasil como o pior país do mundo para se viver, enaltecendo dados maquiados do regime militar, aquele mesmo que nos mergulhou numa divida externa imensa para atender os desejos dos Estados Unidos, o mesmo regime que perseguiu não penas políticos, mas também artistas e intelectuais e pessoas do povo, numa prática semelhante à do nazismo que premiava quem delatasse quem era ou poderia vir a ser contra a ditadura.
Os movimentos de agora, pós marchas democráticas, parecem ser fruto de uma coordenação desses grupos de extrema direita, preocupados em desmoralizar os movimentos pacíficos.
Durante o mês de junho vi mensagens do tipo: “ Brasil à beira da Guerra Civil” “A destruição do Brasil por Lula e Dilma”...e coisas desse tipo.
O engraçado é que essa mesma turminha de pseudo- patriotas fecha-se em copas quando escândalos atingem outros partidos políticos com os quais simpatizam. Ao fim, ao cabo, não passam de hipócritas que não desejam mudanças sérias na política nacional, desejam apenas que seus candidatos mais ligados à direita substituam aqueles que lutaram verdadeiramente contra ao Regime Militar animalesco e cerceador que vivenciamos por décadas.
O mesmo Regime Militar que sucateou escolas públicas, amordaçou a palavra dos professores, invadiu universidades, em nome de uma manutenção pura e simples de um poder artificial que jamais lhes foi conferido senão por uma pequena camada social golpista e sem caráter que lucrou, e muito, com o regime militar.
O que move tais defuntos vivos, não é o patriotismo, é o medo de ver exposta toda a podridão do seu regime, escondida sob a tal permuta que se chamou Lei da Anistia. O que os move é a perda do status que julgavam ter acobertados por terem “ as costas quentes”, como todo o bom “pau mandado” a serviço de objetivos escusos.
Querer transformar o Brasil no pior país do mundo, na pior administração do mundo, na pior economia e etc, não é apenas faltar com a verdade, é agir com extrema má fé e falta de caráter. Que me desculpem aqueles que pretendem acreditar nas leviandades postas por esses senhores e senhoras, mas basta ver o comportamento do nosso governo durante a atual crise mundial e o comportamento dos seus antecessores para os quais um simples espirro na bolsa de valores na Ásia, por exemplo, já causava uma onda de desemprego e uma recessão absurdas em nosso país.
Mas como este país é um país de desmemoriados, comandados pela vontade de meia dúzia de formadores de opinião que preferem viver em um mundo de amnésias seletivas, muitos se deixam enganar pela estultícia desses paus mandados.
O medo desses senhores é agora direcionado ao movimento social e popular apartidário, pois não havendo partidos envolvidos, o debate e a troca de ideias entre os manifestantes torna-se muito mais perigosa para os radicais, para os quais a liberdade de pensamento é algo a ser reservado apenas para seus correligionários.
São Paulo, 24 julho de 2013