Rugas bem-vindas

Há pouco tempo percebi que não posso mais sorrir com o mesmo entusiasmo de antes, sem que coloque em evidência alguns pequenos traços perto dos olhos. Um sorriso contido é o que devo exercitar daqui para frente. Quem sabe apenas uma balançadinha de cabeça ou um aceno para mostrar que está tudo bem. Gargalhada é bom evitar. A prova está nas fotos que sempre vão para as redes sociais sem passar pelo crivo do photoshop. Por isso, é sempre bom manter a linha e a euforia.

Uma conhecida partilha comigo os mesmos dilemas. Diz que agora está sendo rotulada de antipática porque vem sendo comedida no riso. Ainda que preocupada com os julgamentos alheios, diz que prefere a antipatia as rugas saltando sempre que sorri. Paranoia dela. Nem é tanto assim.

Nunca fiz absolutamente nada para retardar o envelhecimento. Ao contrário, sempre quis ter mais idade do que tinha. Aos 15 queria ter vinte; aos vinte sonhava com os trinta; daí parei. Agora quero a idade que tenho e até gosto de minhas ruguinhas desde que estejam bem alinhadas. Para isso, vale creminho, massagens faciais, filtro solar e ácidos. Mas nada que dê muito trabalho. Canso-me só de ouvir a maratona que algumas mulheres fazem para acabar de vez com qualquer expressão no rosto. De fato perdem não só a expressão como a espontaneidade. Coisa que não quero perder, nem mesmo em nome da jovialidade. Conter o riso é grave. Claro que se tivesse opção, preferia não ter rugas, mas já que elas chegaram (para ficar) vou tratar de acomodá-las em minhas experiências. Há dias que elas me valem muito.

Cláudia Sabadini
Enviado por Cláudia Sabadini em 26/07/2013
Reeditado em 27/02/2024
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