O conto e a coragem dos peruanos
Penso que chegou a hora de contar porque aderi ao conto. Se possível, contos leves e bem humorados. Sim, abandonei os poemas para me dedicar aos contos, pelo menos momentaneamente. Não posso esquecer que como geminiano tenho uma tendência para a mudança. Sigo um caminho, pego um atalho, retorno para o caminho, pego outro caminho, retorno para o caminho antigo. Coisas do signo gêmeos...
Amigos, vamos ao que interessa: a explicação para os meus contos. Vejam, atenção, estou experimentando os contos, embora não tenha largado de mão as crônicas, que até se confundem com os contos.
Mas como eu ia dizendo, a frase que mais me emociona é aquela que diz que algo se perde nas noites dos tempos. Essa a primeira explicação. Soube que os contos se perdem nas noites dos tempos. Esse é o pensamento que mais me emociona, talvez por nos remeter ao início de tudo... Essa frase, ouvi pela primeira vez do meu professor de Direito Penal, o Dr. Geber( pronuncia-se Gueber, coisas da tortuosa língua alemã). Foi logo na primeira aula. Ele começou assim: - “Senhores, (ele falou senhores, mas eu só tinha 19 anos) o crime se perde nas noites dos tempos”. Pronto, foi o bastante para eu virar criminalista. Essa frase me acompanha por todas as noites da minha vida.
Dirão meus amigos, que pacientemente, me leem: - mas era preciso deixar de lado os poemas? Logicamente, o poema é também muito antigo. –“ Sei, sei, amigos.” No entanto, o poema não costuma entrar em detalhes, é mais um grito lancinante do poeta, que não raras vezes chega a ser exaltado, sempre voltado para a exuberante natureza, onde o poeta fala com os pássaros, almoça com o sol, etc. etc. Não entra nos detalhes, situa-se no mundo figurativo, deixando que o leitor interprete de acordo com a sua sensibilidade.
Nos contos, mesmo nos mais breves, como esse que tento fazer, é que aprendemos mais sobre a vida. O conto entra no detalhe. Invade a noite! Acredito que os leitores já estão pensando: - “mas o poema também invade a noite”. É verdade, mas nesse caso, como nos poemas de amor, convenhamos, é outro tipo de invasão... É um atavismo que vem dos tempos das cavernas. Por isso, gostamos todos de estórias. E essas estórias antigas nos livravam de irmos parar na boca de um feroz leão. O detalhe salvava vidas.
Pois bem, chegamos à coragem dos peruanos. Não fosse o conto, morreria sem saber a origem de uma frase pornográfica que minha tia Leonor dizia sempre (aos gritos): - “Desse jeito não há fiofó de peruano que aguente” (na verdade, ela dizia o nome cru do fiofó).
Ficava intrigado com essa frase, de onde minha tia, que saltava do bonde em movimento, tinha tirado esse ditado? Lendo um antigo conto do nosso querido Moacyr Scliar, recentemente falecido, o contista nos relata que os peruanos eram mais corajosos que os brasileiros.
Era a propósito de um problema ocorrido com uma moça de Santa Catarina. O conto começava mais ou menos assim: duas irmãs conversavam, quando, de repente, a mais nova, de dezesseis anos, diz para a irmã mais velha, já casada, que estava grávida. Foi aquele susto. O pai, filho de alemão, era severíssimo, chamava-se Walfgang, ou Fritz, não me lembro mais. No desenrolar da história, a moça tem o filho e entrega para a irmã mais velha criar. Na ânsia de arranjar um pai para o filho, vai para São Paulo (todo mundo vai para São Paulo para se ajeitar... essa a causa dos congestionamentos de mais de 100 quilômetros). Conhece um monte de brasileiros, mas nenhum assume o filho dela. O mineiro, pela sua desconfiança nata. O gaúcho, pela sua macheza, e assim por diante. Ah! ia me esquecendo: o pai da criança, adivinhe, caro leitor! Acertou! Era um carioca, que fugiu reclamando do frio da cidadezinha, terra natal da moça catarinense.
Vejam como nesse mundo as pedras se encontram: a dona da pensão onde estava hospedada a catarinense, condoída com o desespero da moça, lhe dá um conselho: - “Filha, para de tentar um brasileiro. Os brasileiros são muito covardes para o casamento. Tente um peruano, os peruanos são mais corajosos. Quando li isso, uma luz se acendeu em mim. Estava tudo explicado. Minha tia Leonor, com certeza, havia também lido esse conto. Quando a coisa estava muito difícil, vinha a sentença: -“ assim não há .. de peruano que aguente!
Tive, finalmente, a certeza da importância dos contos na vida da humanidade.
Penso que chegou a hora de contar porque aderi ao conto. Se possível, contos leves e bem humorados. Sim, abandonei os poemas para me dedicar aos contos, pelo menos momentaneamente. Não posso esquecer que como geminiano tenho uma tendência para a mudança. Sigo um caminho, pego um atalho, retorno para o caminho, pego outro caminho, retorno para o caminho antigo. Coisas do signo gêmeos...
Amigos, vamos ao que interessa: a explicação para os meus contos. Vejam, atenção, estou experimentando os contos, embora não tenha largado de mão as crônicas, que até se confundem com os contos.
Mas como eu ia dizendo, a frase que mais me emociona é aquela que diz que algo se perde nas noites dos tempos. Essa a primeira explicação. Soube que os contos se perdem nas noites dos tempos. Esse é o pensamento que mais me emociona, talvez por nos remeter ao início de tudo... Essa frase, ouvi pela primeira vez do meu professor de Direito Penal, o Dr. Geber( pronuncia-se Gueber, coisas da tortuosa língua alemã). Foi logo na primeira aula. Ele começou assim: - “Senhores, (ele falou senhores, mas eu só tinha 19 anos) o crime se perde nas noites dos tempos”. Pronto, foi o bastante para eu virar criminalista. Essa frase me acompanha por todas as noites da minha vida.
Dirão meus amigos, que pacientemente, me leem: - mas era preciso deixar de lado os poemas? Logicamente, o poema é também muito antigo. –“ Sei, sei, amigos.” No entanto, o poema não costuma entrar em detalhes, é mais um grito lancinante do poeta, que não raras vezes chega a ser exaltado, sempre voltado para a exuberante natureza, onde o poeta fala com os pássaros, almoça com o sol, etc. etc. Não entra nos detalhes, situa-se no mundo figurativo, deixando que o leitor interprete de acordo com a sua sensibilidade.
Nos contos, mesmo nos mais breves, como esse que tento fazer, é que aprendemos mais sobre a vida. O conto entra no detalhe. Invade a noite! Acredito que os leitores já estão pensando: - “mas o poema também invade a noite”. É verdade, mas nesse caso, como nos poemas de amor, convenhamos, é outro tipo de invasão... É um atavismo que vem dos tempos das cavernas. Por isso, gostamos todos de estórias. E essas estórias antigas nos livravam de irmos parar na boca de um feroz leão. O detalhe salvava vidas.
Pois bem, chegamos à coragem dos peruanos. Não fosse o conto, morreria sem saber a origem de uma frase pornográfica que minha tia Leonor dizia sempre (aos gritos): - “Desse jeito não há fiofó de peruano que aguente” (na verdade, ela dizia o nome cru do fiofó).
Ficava intrigado com essa frase, de onde minha tia, que saltava do bonde em movimento, tinha tirado esse ditado? Lendo um antigo conto do nosso querido Moacyr Scliar, recentemente falecido, o contista nos relata que os peruanos eram mais corajosos que os brasileiros.
Era a propósito de um problema ocorrido com uma moça de Santa Catarina. O conto começava mais ou menos assim: duas irmãs conversavam, quando, de repente, a mais nova, de dezesseis anos, diz para a irmã mais velha, já casada, que estava grávida. Foi aquele susto. O pai, filho de alemão, era severíssimo, chamava-se Walfgang, ou Fritz, não me lembro mais. No desenrolar da história, a moça tem o filho e entrega para a irmã mais velha criar. Na ânsia de arranjar um pai para o filho, vai para São Paulo (todo mundo vai para São Paulo para se ajeitar... essa a causa dos congestionamentos de mais de 100 quilômetros). Conhece um monte de brasileiros, mas nenhum assume o filho dela. O mineiro, pela sua desconfiança nata. O gaúcho, pela sua macheza, e assim por diante. Ah! ia me esquecendo: o pai da criança, adivinhe, caro leitor! Acertou! Era um carioca, que fugiu reclamando do frio da cidadezinha, terra natal da moça catarinense.
Vejam como nesse mundo as pedras se encontram: a dona da pensão onde estava hospedada a catarinense, condoída com o desespero da moça, lhe dá um conselho: - “Filha, para de tentar um brasileiro. Os brasileiros são muito covardes para o casamento. Tente um peruano, os peruanos são mais corajosos. Quando li isso, uma luz se acendeu em mim. Estava tudo explicado. Minha tia Leonor, com certeza, havia também lido esse conto. Quando a coisa estava muito difícil, vinha a sentença: -“ assim não há .. de peruano que aguente!
Tive, finalmente, a certeza da importância dos contos na vida da humanidade.