Sou só ossos!

- Ó Lurdes como estás magra!

- Ó mãe que ideia a sua! Para si estava bem é se fosse gorda que nem uma bola….

Perante este diálogo, eu sem dar a perceber, dou comigo a olhar para a minha figura, que ao contrário da minha filha, sou muito bem nutrido. Também, com o apetite que tenho, o contrário é que era de estranhar.

A balança sofre um pouco de cada vez que solicito a sua opinião sobre se emagreci dez gramas ou engordei um quilo. Muitas das vezes penso que avariou, sempre que, sem mais aquelas me mostra que engordei. Mas não! Ela está certa, pelo menos em relação ao peso da minha esposa, ela não se engana…penso eu, muito embora já tenho ouvido reclamar contra a dita cuja: «Porcaria de balança que nunca está certa».

-Você está gordo! Está quase obeso. – Desta vez é o meu genro que não perde uma para me mimar.

- Obeso eu? Já olhaste para saliência da tua barriga? Tu que és um jovem. Eu com toda esta massa muscular (é preciso descaramento, chamar massa muscular à gordura), tenho menos barriga do que tu (isso é verdade, não tenho barriga apesar do peso).

- Já reparou que tem alguns dez a doze quilos a mais que o Cristiano Ronaldo e menos vinte centímetros do que ele.

- E ele a dar-lhe! – Comento meio enfadado com a comparação. - Mas tu achas que se eu fosse o Ronaldo estava agora a aturar-te (Ora toma lá que é para aprenderes a não chateares o teu sogro)?

Bom! Vou parar por aqui com esta troca de mimos e retomar o rumo com que comecei, é que ofender a minha pessoa só admito a mim mesmo. Continuando; é certo que gostaria de ter uns quilos a menos, mas caramba! Também gostaria de ter uns anos a menos, viajar quando me apetecesse por esse mundo fora, frequentar os restaurantes pela qualidade da ementa sem me preocupar a olhar para os preços. Enfim, como não se pode ter tudo, tenho o que tenho, apesar das reclamações dos meus joelhos que são quem mais sofre com estes meus devaneios gastronómicos.

Voltando à primeira linha em que a minha esposa afirma que a minha filha está magra, reparo com alguma preocupação que não estou gordo, mas magro e muito magro (peso seis arrobas*, para quem não saiba é o mesmo que noventa quilos), isto, segundo o método da minha cara-metade, que apalpando os cotovelos da minha filha diz: «Então não estás magra? Olha para isto! É só ossos!!!

Permitam-me brincar com uma quadra de António Aleixo:

Sei que pareço um gordão

Mas há muitos que eu conheço

Que não parecendo que o são

São aquilo que eu pareço

*Arroba medida antiga, em Portugal (onde ainda é utilizada para pesar a cortiça) e no Brasil (onde é utilizada para pesar os porcos e o gado bovino), a arroba métrica foi arredondada para 15 kg.

Lorde
Enviado por Lorde em 26/07/2013
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