Parati para mim!
Quero contar a vocês como eu, uma senhora de cinquenta e quatro anos, casada, que pouco saí do Ceará, conheci Parati no Rio de Janeiro. Era ocasião da FLIP e SESC Emiliano Queiroz, onde trabalho, selecionou alguns funcionários para ir à feira. Quando eu soube que seria um das agraciadas fiquei emocionada ( ser premiada assim nunca tinha acontecido antes!) e num pé e noutro para viajar. Como seriam feitos alguns ajustes por parte do SESC antes da confirmação da viagem, fiquei na expectativa e, quando eu achava que não daria certo, veio a autorização para o embarque. Eu já avisara ao pessoal do Abraço Literário, um grupo de escritores que coordeno às terças-feiras, que fora cogitado meu nome e que precisaria de roupas de frio, uma vez que o Rio de Janeiro estava no inverno.
Em cima da hora recebi a notícia de que iria e toda faceira fui terminar de arrumar as malas. Porém, ao chegar ao aeroporto, começou a bater um medo injustificado como se algo pudesse dar errado e falei com Felipe, meu filho, que queria desistir. Ele, por sua vez me dissuadiu, procurei uma funcionária da companhia aérea que trabalhava no Pinto Martins e fui muito bem atendida. Ela foi muito legal comigo. Verificou minha passagem, fez o check-in , indicou-me o portão e despachou minha bagagem. Agradeci, satisfeita, mas o pressentimento não saía de mim.
Após três horas de muito nervosismo – quase não comi com medo de vomitar e limitei a tomar um gole d’água – desembarquei no Aeroporto Internacional Tom Jobim. Imediatamente fui procurar um táxi, pois me disseram que era mais seguro. Saí com a bagagem direto para a Rodoviária Novo Rio e, lá chegando, fui informada de que o último ônibus para Parati já havia seguido viagem. Dali começou meu desespero. Onde vou dormir? Conversando com um e outro, descartei a ideia de me acomodar na banco da rodoviária e parti, por volta de meia noite, na chuva, carregando mala e tudo. Depois de andar por ruas mal iluminadas e esquisitas vi uma placa que indicava “Hotel”. Tive de subir uma comprida escada e , ao fim, estava diante de uma bancada com luz verde com um escaninho atrás e um claviculário. Em cima daquela, havia um livro de registro de hóspedes e um senhor de meia idade, que concluí ser o recepcionista. Perguntei-lhe se tinha um quarto disponível.
- Só tenho um. E é lá nos fundos! – respondeu com ar de pouco caso.
Disse a ele que ficaria, até porque lá fora a chuva começava a aumentar juntamente com o frio. O recinto fazia jus ao prédio: esquisito, úmido e gelado. Ao ouvir os trovões, me apavorei. Voltei à recepção e implorei àquele senhor para me tirar do quarto.
- Mas, minha senhora, eu não tenho outro! A senhora vai ter de ficar lá! – disse-me o recepcionista, tanto impaciente. Para o meu desânimo, voltei e não preguei olhos a noite toda, vendo, de vez em quando, uma barata passar e ouvindo os pingos da pia do banheiro. Nem desfiz as malas , fiquei de vigília em frente ao relógio do celular, esperando o dia amanhecer. Quando deu seis horas, parti para a rodoviária e, para completar minha falta de sorte, só consegui embarcar às oito e meia. A fome nem sequer aparecia e eu não via a hora de ir-me embora. Finalmente peguei o ônibus, mas, como a estrada estava ruim devido às chuvas, a viagem demorou o dobro do tempo. Cheguei a Parati quase quatro da tarde, morta de fome e doida para ir ao banheiro.
Para a minha felicidade, diante de tantos revezes, encontrei Ana e Ângela, duas colegas do SESC que foram visitar a feira por conta própria. Logo elas me acomodaram na pensão onde estavam. Falaram com o dono e tudo deu certo. Depois que tomei banho, arrumei-me e saí para ver a tão badalada Parati e sua FLIP. Confesso que a cidade era bonita, mas o calçamento não combinava com o salto alto que trouxera de Fortaleza. Quase torci o pé e fui obrigada a comprar um tênis, que me custou os olhos da cara. Outra decepção foi que a maioria das mesas ( custando cada uma cinquenta reais!) estavam completas e pouco pude assistir das palestras. Além disso, os banheiros da cidade só estavam liberados na cidade na área da feira para quem gastasse nos restaurantes e/ou bares. Tínhamos, eu, Ana e Ângela muitas vezes que driblar a vigilância dos locais, se quiséssemos fazer xixi. A comida era cara, por menos de quarenta reais não se encontrava almoço; e, menos de quinze, uma boa merenda. O vale que o SESC me deu não era aceito no comércio e, no fim das contas, tive de ligar para Felipe e pedir para que ele depositasse em minha conta (sem o pai dele saber!) o dinheiro de minha aposentadoria, o qual eu rezava para não ter atrasado. Como nada estava dando certo mesmo! Meu filho me disse que, devido a um problema no banco, minha senha precisava ser modificada e isso só poderia ser feito com a autorização de meu marido. Fui obrigada a fazê-lo e ouvir horrores. Contudo, graças a esse dinheiro e mais algum, que peguei emprestado com as meninas, consegui voltar.
Ao chegar a Fortaleza falei a Rogério Ramos, o carioca do grupo, e aos demais membros do Abraço Literário que Parati para mim foi uma decepção. Mesmo assim, ainda trouxe alguns exemplares da Piauí e da Serrote, revistas distribuídas durante a feira, reparti com o pessoal que veio a reunião. Depois de relatar meu infortúnio, soube que de uma próxima vez vou poder contar com um apoio logístico de parentes de conhecidos do Abraço Literário.