A carta que veio do Papa
Antes de chegar ao Brasil, o Papa Francisco me enviou uma carta... Para não invejarem tal privilégio, esclareço que ele postou essa “circular pontifícia” a todos nós. Talvez você não a encontrou ainda entre as correspondências, pressentindo que ninguém escreve mais carta. Empurrado pela nostalgia, releio cartas guardadas e, aqui e acolá, escrevo uma. Essa do Papa parece com as epístolas escritas por Pedro e Paulo de Tasso; epístola que, em latim, significa carta, missiva... As cartas dos papas também recebem o nome de “encíclica”. E cada uma delas é denominada pelas primeiras palavras da sua linha inicial... Essa que recebi se chama “Lumen Fidei”, porque assim começa: “A luz da fé é a expressão com que a tradição da Igreja designou o grande dom trazido por Jesus (...)”.
A Encíclica Lumen Fidei é substancioso e saboroso fruto colhido das conversas filosóficas e teológicas entre a competência de Ratzinger e o carisma, a ternura pastoral de Bergoglio; ou entre o Papa Emérito Bento XVI e o Papa Francisco. Coisa rara: dois papas a confidenciarem, entre si, angústias, perante um mundo, cada dia mais, sem fé; mulher ou homem sem fé em si próprio, sem fé nos outros, nos valores, enfim, sem fé na fé, o que impossibilita de se ter fé em Deus... Se não acredito no outro que está ao meu lado, como acreditar em Deus que somente é visto nesse outro, nesse “próximo” ou no nosso casulo que é a natureza? Há um verdadeiro liame entre acreditar em Deus e ter fé nas suas obras, nas suas criaturas que também somos nós...
A carta do papa Francisco “não traz ouro nem prata”, mas o que nos resta de esperança: a fé. Porque sem a fé, não há esperança, otimismo, boa vontade; deixamos de acreditar até no sentido da vida... Ao se falar da fé, há quem “vaidosamente” encontre obstáculo à razão ou à ciência. Mas, ao se ler a Lumen Fidei, perceber-se-ão filosofia e razão para uma construtiva visão de mundo (Weltanschauung) e do homem nele inserido. Sua mensagem traz energia transformadora a qualquer pessoa de boa vontade, cristã ou não; a qualquer pastor ou a qualquer ovelha. A carta do papa Francisco nos admoesta e demonstra que ninguém compreende sem a fé, ninguém ama sem a fé e sem a fé ninguém é feliz...