Metafísica e Enfitêutica

Claro que Enfitêutica era bonita. Sempre produzida. Roupas de primeira linha. Maquiagem discreta. Conta bancária saudável. Meia idade. Morena.

Metafísica ora apresentava-se como loura, ora como morena. Alguns juravam que já a tinham visto ruiva. Parecia não envelhecer nunca. Embora não ligasse pra roupas caras ou maquiagem. Sempre de bem com suas contas pessoais. Apesar de ninguém saber onde ficava o seu banco.

Enfitêutica nunca deu bola pra ninguém. Talvez por isso todos ficassem atrás dela. Em que pese os encargos inerentes a essa conquista. Que extrapolam os habituais. No caso dela destacando-se o laudemium, obrigação que o enfiteuta (o adquirente) teria pelo resto da vida. E que, em se tratando dela, todos sempre achavam que valia à pena.

Metafísica sempre deu bola pra todo mundo. Talvez por isso é que poucos ligavam pra ela. Estava sempre por perto. Então poderíamos alcançá-la quando quiséssemos. Só que nunca ninguém estava interessado em se preocupar com fundamentos, condições, causas ou princípios primeiros. Apesar de ser ela também bastante atraente. O que não seria suficiente pra que estivéssemos a fim de curtir entendimentos sobre a finalidade da realidade como um todo ou o seu sentido.

Sair com Metafísica seria ter necessariamente como coadjuvante a filosofia. Sair com Enfitêutica significaria a possibilidade de um contato maior e mais rápido com a alegria. Já que nada de mais sério seria abordado. Estando apenas implícito o compromisso ajustado. O que não afastaria a conveniência da descontração.

Não vou dizer que não flertei com Metafísica. Fomos jantar algumas vezes. Mas os assuntos eram sempre os mesmos. Ou melhor, bastante diferentes, mas com o mesmo pano de fundo. E o depois, sempre num segundo plano.

Sem dúvida não posso incorrer no erro de dizer que Metafísica não me atraia. Mas reconheço que as noites com Enfitêutica foram mais agradáveis. Depois de rápidas incursões em modalidades de investimentos, a maioria imobiliários, dedicávamo-nos às banalidades da vida. Um bom vinho. Um Ray Charles ou uma Billie Holiday no meu som importado. Lembranças do Tamba Trio. E uma cama acolchoada, que ninguém é de ferro. Em que sempre me intrigava e atraia a farta penugem preta parcialmente encobrindo aquela vagina. Além do cheiro, proveniente da excitação.

Além disso, Metafísica se depilava!

Rio, 25/07/2013

Aluizio Rezende
Enviado por Aluizio Rezende em 25/07/2013
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