A televisão

Guglielmo Marconi é por muitos conhecido como inventor da rádio, de facto em Junho de 1896, registou em Londres a primeira patente de um sistema de rádiocomunicação, inventado com base nas pesquisas anteriores de outros cientistas. Um longo caminho se percorreu até à rádio tal como a conhecemos. Outros cientistas deram o seu contributo, tais como Michael Faraday, James Maxwell, Heinrich Hertz e outros com tanta ou mais importância, como o padre brasileiro Roberto Landell de Moura, considerado como o verdadeiro inventor.

Marconi inventou o telégrafo sem fio. O italiano transmitia os sinais em código Morse. Mas, naquele momento, já Landell transmitia a voz humana por meio de ondas eletromagnéticas, era o rádio como o conhecemos. No entanto no seu próprio país é ignorado pela história.

Sem querer veio-me à memória o nosso Bartolomeu de Gusmão e a sua Passarola no seu contributo para a aviação.

Não vou aprofundar muito a história da rádio por agora, um tema que me é caro, aliás como quase tudo ligado à eletrónica, vou só lembrar que muitos foram os passos que se foram dando desde a invenção da válvula, até ao super heteródino, circuito muito mais seletivo na captação das emissoras.

Segue-se a televisão. No ano de 1920, o escoçês John L. Baird montou um dos primeiros modelos de televisão de que se tem notícia. A partir de então, o aparelho de televisão foi sendo aprimorado até que o mesmo pudesse ter maior viabilidade comercial.

É então com oito anos que eu tenho o primeiro contacto e foi amor à primeira vista. E fiquei tão apaixonado que ainda hoje não perco as novidades que vão aparecendo, mas adiante. No início a televisão só transmitia à noite e acabava à meia noite. Aos domingos à tarde a miudagem (a canalha, como éramos designados, nós, os miúdos) tinha direito a uma sessão no salão paroquial.

Para que isso acontecesse recebíamos uma senha na sacristia depois da missa. Não me recordo se começava às quatro se às cinco horas, mas meia hora antes já todos nós fazíamos fila à espera que a porta se abrisse.

Como porteiro a controlar as senhas, tínhamos o próprio padre Luís. Por vezes eu não tinha senha devido às minhas incursões pelos campos. Inventava então uma história de que a tinha perdido (e isso acontecia muitas vezes), no entanto para provar que tinha estado presente na missa, falava no tema do evangelho daquele domingo. Resultava sempre, porque tinha o cuidado de antes ler o jornal de cariz religioso «O Amigo do Povo» de que o meu pai era assinante e logo na primeira página vinha escrito o evangelho. A coisa resultava sempre, se bem que por vezes via o padre a franzir o sobrolho.

Sentados no chão, aguardavamos pelo prato principal que era o Rin tin tin. Uma série americana onde o protagonista era um cão (um pastor Alemão) e o seu dono o pequeno cabo, ambos incorporados na cavalaria dos Estados Unidos. As aventuras com os índios, o toque do clarim quando a cavalaria carregava, os tiros, o barulho dos cavalos e a própria gritaria dos índios faziam as delícias da miudagem.

A influência da televisão nas pessoas era notória. No tema das conversas, já se discutiam as peças de teatro da noite anterior tal como hoje se fala das telenovelas, coisa nunca vista por aquelas gentes. As melodias de sempre que permitiam ver a cara de alguns artistas que em muitos casos nada tinham que ver com a pessoa que imaginavam na rádio. Enfim um mundo novo, visto através daquela caixa.

As brincadeiras do dia a dia, sofreram uma concorrência séria com as séries televisivas. Passou-se a fabricar acessórios inerentes ao tema. Pistolas de madeira e corcódea, espadas, arcos e flechas. Começámos a fazer duelos quer com as nossas pistolas quer com as espadas de pau. Nessas lutas se tínhamos que tomar alguma posição e o nosso oponente se tornava renitente em ceder, as lutas acaloravam e para evitar alguma cabeça partida utilizávamos como elmo o cesto de vime da apanha das azeitonas. Ninguém queria fazer de índio porque o pobre perdia sempre, até que eu vi na televisão que nem sempre perdiam. Então tomei a postura de defender os índios com unhas e dentes, até que pela pontaria das minhas setas de cerejeira, acharam por bem recambiarem-me para as tropas do general Custer, onde tinha que obedecer ao comandante que normalmente era um dos mais velhos e assim não arranjava problemas na brincadeira.

Lorde
Enviado por Lorde em 24/07/2013
Reeditado em 24/07/2013
Código do texto: T4401847
Classificação de conteúdo: seguro