Democratas e republicanos

DEMOCRATAS E REPUBLICANOS

(crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 24.07.13)

Durante as campanhas para a eleição de um novo presidente dos Estados Unidos, os meios de comunicação de massa tornam-se uma fonte quase inesgotável de humor. Os meios de comunicação - que adoramos chamar "as mídias". Talvez devêssemos dizer "as mídia", já que se falará corretamente "os campi", para o plural de campus, e "as Blitzen" ou "as Blitze", para o de Blitz. Neste caso, porém, preferimos a forma como o inglês adapta a palavra alemã e ficamos com "as blitzes".

A mídia. O inglês pronuncia desse jeito a palavra latina "media", plural de "medium". E "medium" vem a ser exatamente aquilo que fica no meio de duas coisas, por exemplo, a notícia ou a comunicação de algo que se situa entre o fato e o ouvinte ou espectador interessado no assunto. O inglês, um idioma germânico, encontra no latim, e frequentemente o faz, as palavras ideais, perfeitas, para expressar-se adequadamente. Nós, que falamos uma língua originária do latim, pegamos o vocábulo latino filtrado pelo inglês, e habitualmente o fazemos, acreditando esnobe e mais sofisticado falar mídia.

Mas não é isso o que interessa agora. Fiquemos só com a primeira frase.

A cada eleição os republicanos revelam ao mundo uma alma que se diria suburbana, conservadora e preconceituosa. Colocam suas bíblias acima da Constituição do país. Com isso, fica muito engraçado e triste tudo o que dizem. Ontem, um desses declarou que vai proibir o sexo oral nos EUA. Se o seu candidato se elege, são oito anos (pois a reeleição, lá, é uma instituição nacional) de culto à guerra, ao dinheiro e ao individualismo mais egoísta, o que gera uma quantidade admirável de asneiras ditas aos quatro ventos. George W. Bush, por exemplo, com os seus olhinhos miúdos e perdidos, que ele nunca sabe direito onde fixar, esperava sempre que lhe dissessem o que fazer. Mas, esperto, sempre soube a quem devia agradar. Não é à toa que, todo ano, passando férias no rancho, ele invariavelmente levava um belo tombo de bicicleta. Como se andar de bicicleta fosse matéria altamente complexa feito cálculo integral e diferencial.

Um assunto que sempre vem à baila durante os anos republicanos, levantado a períodos regulares como um mantra, é a fantástica ameaça terrorista que se esconde na mítica Tríplice Fronteira. É forçoso deixar claro ao mundo - e, por tabela, aos países envolvidos, Brasil, Argentina e Paraguai - que o Grande Irmão jamais se furtará de tomar a região se suspeitar que a segurança nacional e a integridade física do trabalhador americano correm algum perigo emanado dos vapores das Cataratas do Iguaçu. É imperioso ventilar a questão de vez em quando a fim de que uma eventual invasão militar quede "a priori" justificada.

E há os democratas. Esses costumam ser mais simpáticos, cosmopolitas e esclarecidos. Carregam na alma, entretanto, um medo terrível: não podem permitir de forma alguma que sejam vistos como gente de esquerda; isto será o seu fim. Rotulados de socialistas, estarão equiparados a inimigos públicos de máxima periculosidade. Apontados como comunistas, sacrilégio supremo, terão condenação imediata ao inferno, sem o refrigério do purgatório.

Saem de períodos democratas, porém, as grandes agressões ao Brasil e ao mundo: com John Kennedy, a implantação das ditaduras militares latino-americanas e, com Barack Obama, a espionagem indiscriminada e paranoica de mensagens pessoais e corporativas de amigos, aliados e suspeitos. Como nós.

Enquanto uns ladram, os outros mordem.

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Amilcar Neves, envolvido com a criação de uma nova novela, é escritor com oito livros de ficção publicados, alguns dos quais à venda no sítio da TECC Editora, em http://www.tecceditora.com.

"Somente teremos discussões salutares neste País se respeitarmos a História."

Eu Mesmo, em 17.04.13, respondendo a e-mail sobre golpe de 1964 e ditadura de 21 anos.