Entrando no Século XXI
Entrando no Século XXI
Sabe um daqueles momentos sublimes da vida em tu te encontras pensando acerca da tua existência e da tua mais profunda essência interior? Essa foi, sem dúvida, uma frase de efeito. Uma forma elegante que encontrei para não dizer ao mundo que estou sem trabalho e sem nada para fazer. E no momento mais pleno da minha transcendência meu telefone tocou. Era uma ex-colega de trabalho. Uma pessoa bastante quista. Nossa!, fazia tempo que não nos falávamos. Ela tinha um motivo especial para ligar. Eu não podia, pois uma grande invenção do mundo moderno estava cortado por problemas técnicos (uma forma très sutil de dizer aos amigos que o telefone foi cortado por falta de pagamento). A colega, entre outros assuntos, em meio àquele teretetê todo, me deixou inteirada a respeito de tudo (uma forma elegante de dizer fofoca). Foi então que ela me deu a notícia: sabe do Bruxo? (maneira afetuosa de se referir ao nosso ex-chefe). Disse-lhe que não, havia tempos que não falava com ele. Perguntei-lhe o porquê da pergunta. Dessa forma, fui comunicada de que ele chamou outra ex-colega, pessoa adorável e boníssima, para trabalhar com ele. Elegantemente comemorei ao telefone, mostrei a minha apreciação débil e patética: que maravilha! Ela é uma pessoa bastante querida, aquele blá, blá todo. Desejei do fundo do meu coração que essa amiga tenha me ligado porque estava com saudades de mim. Ou será que houve aquele momento mágico em que ela conseguiu ler os meus pensamentos: “Eu precisando de trabalho e ele chamou a menina, cujo pai tem um escritório de advocacia. Dei meu sangue e ele a convidou para cargo de confiança. Ela nem precisa...” Pensamentos tolos... lógico que isso nem passou pela mente dela. Lembro-me que até desviei o assunto para dizer que estava fazendo o meu trabalho de conclusão da graduação, pois tinha de demonstrar que não havia me abalado com a notícia. Falei-lhe que eu estava abordando “O Empreendedorismo nas organizações”. Que esse era um momento bastante importante para falar desse assunto, pois o perfil dos profissionais estava cada vez mais dinâmico e polivalente. Também disse a ela que o mercado de trabalho está bastante enxuto e competitivo (não que eu precise, naturalmente), e que, no entanto as pessoas estão buscando cada vez mais ter o seu próprio negócio. Caríssimo leitor, temos de esclarecer sempre às pessoas de que estamos no comando da situação e de que estamos acima desses pormenores. (Puxa, ele chamou a fulana. Será que meu esforço não valeu de nada. Nada, mas nadinha mesmo? Isso sem falar no bocado de horas extras que fiz para dar conta do volume de trabalho. Não recebi um tostão a mais. Não pude nem compensar esses dias... Ingrato! Dediquei-me tanto ao trabalho e ele nem lembrou da minha existência). Mas prefiro acreditar que depois da chuva, veremos o arco-íris. É, ela realmente me ligou porque estava com saudades! Pessoa bem quista!
No outro dia relatei esse breve interlúdio a um amigo. Na esperança de que ele me desse uma vaguinha lá no seu novo negócio. Ou até “algum” emprestado. Pouco. Uma quantia básica. Nem ia fazer falta. Ele me fez um relato interminável do quanto as pequenas empresas pagavam tributos, fez um discurso bonito sobre a carga tributária. Quase chorei com ele e foi solidária com a sua dor de novo empreendedor. Ou devo dizer: “A carga tributária: a síndrome do novo empreendedor”. Bah, mas até que daria um bom trabalho de conclusão. Não é querer falar, mas caprichei, se o leitor me permite essa falta de modéstia, ainda que não seja um costume meu. Contudo, voltemos a realidade: o fato é que fiquei “sem nenhum”.
E cá estou, nesse momento lúdico, relatando aos leitores, passagens da minha vida. Acho até que depois dessa, vou escrever minha bibliografia. (E quem compraria?). Bem, deixemos para uma outra oportunidade, visto que o momento não é propício. Voltemos aos impropérios da vida. Prezados amigos, já lhes disse que estou num momento bastante lúdico da minha existência? Tenho passado horas tentando resolver qual livro irei ler primeiro. (Uma forma afetuosa de dizer que estou sem trabalho mesmo).
A tecnologia... o computador... a internet... a globalização... um universo sem fronteiras... Não, não me recuso a pensar... Não aceito esses pensamentos pormenores... (Foram essas genialidades que enxugaram o mercado de trabalho no mundo todinho!) Parem, me deixem em paz. Sou uma pessoa “light” e de bem com a vida, extremamente tranquila. Isso! Eu estou acima do bem e do mal. (Acho que a tendência é melhorar... Tem de melhorar... Ahã, te peguei! Dei um flagrante em minhas mãos ... Senhores, acreditem! Elas não queriam atender ao meu comando. Parece que criaram vida própria. Minhas mãos têm vontades e pensamentos próprios. Já, dos pensamentos também brotam mãos).
Pois bem, retomemos. Agora o momento mais sublime: a escolha do pseudônimo. Deve ser algo que me remeta à nobreza... Condessa, não. Marquesa de..., não. A princesa de..., não. Bem, deixemos para uma próxima crônica e voilà, vamos ao Século XXI.