O Mar virou Sertão: Um Sertão de mágoas
"O sertão vai virar mar
Dói no coração
Medo de algum dia
O mar também vire sertão."
Com o êxodo rural, causado pelo descaso político por muito e muito tempo e por grandes períodos de estiagem, cidades litorâneas nordestinas, como João Pessoa, Recife, Natal e Fortaleza tornaram-se um caos total. Viraram um 'mar-sertão'; 'um sertão-marhumano'.
Esse fenômeno acontece desde final do século XIX e o início do século XX. Mil, novecentos e quinze, por exemplo, fora um ano emblemático. Ocasião da grande seca, retratada até pela escritora Raquel de Queirós no seu livro O Quinze. Muita gente emigrara para as capitais em busca de uma vida melhor.
Em João Pessoa, salta às vistas essa problemática. A cidade inchou de modo tão desordenado, que pululam os problemas infra-estruturais por todos os recantos da capital. É necessário que as autoridades repensem JP. Que reprogramem-na, gestando melhor o fenômeno da imigração e da superpopulação. A demanda de problemas é grave. A situação é caótica. A cidade não fora preparada pra essa avalanche de pessoas. As consequências atingem a todo povo e em todos âmbitos sociais. O desemprego é assustador. A grande maioria corre pra informalidade, acarretando sérios desajustes urbanos, tais como: comércio desordenado, com bancas pelas calçadas, tirando o direito dos transeuntes de ir e vir, acumulação de lixo que se avoluma em cada canto, enfeiando ruas e parques do centro da cidade, aumento da pirataria, etc. A habitação é outra coisa pertubadora, as pessoas moram como podem (favelas, cortiços etc.). Como não bastasse, não há escolas suficientes pra acolher esse número enorme de crianças e jovens em idade de acolhimento e investimento. Também, os hospitais ficaram abarrotados, não fazem o necessário. Enfim, os serviços públicos deram pane geral, não há como atender com qualidade, muito menos, eficiência. Então, haja ranger de dentes! É desesperador!
Ainda muito pior, hoje a imigração se agigantou dum tanto, já que ninguém mais quer ficar nas cidadezinhas pequenas. O bom é morar na praia, com toda uma infra-estrutura que no sítio não tem (parece ser bem estruturada). Um mal maior, é que a bandidagem corre solta nas pequenas cidades paraibanas. As drogas se alastraram por todos aqueles povoados. A paz de antes, já era. A violência chegou a esses rincões e pra ficar. Os bandidos saqueiam, matam e dizimam famílias inteiras sem dó, nem piedade. Deverasmente preocupante, porque são lugares que, muitas das vezes, estão a Deus dará, sem ao menos delegacia; desprovidos do amparo estatal. Então, pergunto: fazer o quê, senão sair fora? Ficar é morte certa.
Tem mais, as autoridades pessoenses e das demais capitais focadas, precisam abraçar esses irmãos, pois o mar virou sertão e é irreversível. O Sertão é aqui e precisa de cuidados. Abracemos essa causa! Pois, "quem sai de sua terra natal em outro canto não pára". A não ser que seja bem acolhido. Digo isso, pois minha mãe chegou a João Pessoa com cinco anos de idade, vinda da cidade de Pedra Lavrada, interior paraibano. A sua família inteira, com não sei quantos tios já moravam aqui. E, com certeza, motivados pelo mesmo sonho almejado, uma vida mais digna, com trabalho e condições financeiras. Acolhamos, por conseguinte, esses irmãos sofridos, porque se fizermos uma análise sanguínia, observaremos que somos uma grande parentada, citadinos de um de um sertão que teve que evacuar por falta d'água e abandono. E se remediados estamos, vivamos em paz, sem rixas, sem fofocas e sem esnobação um para com os outros.
O Mar virou Sertão, gente! Um Sertão humano, com sonhos e esperanças peculiares a uma gente que precisa de um abraço e acolhida vipes. Façamos ao outro, o que desejamos a nós próprios. Dita os mandamentos daquele que amou-nos mais que a si mesmo. E assim seja!