Me ajuuudem. Qual texto publicar e por que?

Já me dava conta das horas. Eram 09:14 da manhã. É certo que por vezes me esqueço de acertar o relógio; mas hoje me lembrei. Tinha absoluta certeza da exatidão que me rodeava, seja pelo tempo ou a imensidão do céu. Digo isso por que conheço Brasília. Sou candango, ora. E ninguém é mais habitual ao azul celeste e límpido do que o candango, o meu singelo conterrâneo. E pode confiar, pois sou homem de palavra.

No entanto, hoje a capital do país acordou diferente. Indo mais além, a Universidade de Brasília protagonizou um despertar atípico. Ela estava radiante, assim como uma noiva que se prepara para o casamento e é adornada para entrar na igreja e inebriar-se do amor matrimonial, até quando sua barriga começar a doer. Contudo, como sou homem e não minto, devo alertá-los de um equívoco descrito na última comparação. Diferente da noiva, o vestido que encobria a UnB não era branco, mas alaranjado. Estava revestida por um enorme véu, onde na ponta se revelava um desfecho em ramificações meio secas, meio esverdeadas. Em sua base, como um imponente alicerce real, encontrava-se um oceano ardente como as chamas do fogo. Seu brilho sobrepujava o do amor, além do qual o incorporava a si mesmo. Era uma árvore, alta e circundada pelas laranjas flores que encantavam a UnB naquela manhã.

E quem tem aula nessa universidade do Darcy, do Anísio e de todo mundo, sabe que ela tem seus espetáculos. E quando falo assim, também já sabe que é coisa séria. Mas havia algo a mais, algo grandioso. Aquela árvore tinha um toque especial. Não por causa de sua altivez justificável, tampouco pela sua prepotência em dizer não quando a chamei para uma dança. Mas, apesar de uma beleza imensurável, uma cor incandescente, apesar de ter-me tornado um ébrio e louco por perder-me em seu colo inimaginável, ela transparecia uma coisa nova, uma inovação que não está ao meu alcance de homem, pois um dia só os deuses irão entendê-la.

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Corria. Estava correndo a horas, talvez dias, semanas... Ele mesmo não poderia dizer com exatidão quanto tempo, quem sabe sua corrida durasse anos... O ar faltava, estava ofegante. Braços, costas e rosto suavam incessantemente. Quando por algum motivo ameaçava parar, ou simplesmente reduzir a velocidade, seu coração comprimia-se, como se alguma mão oculta estivesse a aperta-lo. A respiração ficava mais pesada, uma terrível angústia tomava-lhe a alma, sentia imensa vontade de gritar, de berrar a todo peito - tal qual o condenado que já não suporta o cárcere. Não é que sentisse melhor ao correr, mas esse ato, como que anestesiava sua dor. No caminho estreito que percorria não havia árvores. Não havia sombra. Não havia ninguém, somente um sol mau, do tipo que só se viu na Argélia, ardia ao longe. Não sabia que lugar era aquele, ou que caminhos até lá o conduziram e não saberia encontrar uma estrada que desse em algum lugar. Paulo, pois esse era o nome do rapaz (ou ao menos, o nome que condenaram-no a carregar quando criança) avistou de súbito, em sua frente, uma imensa floresta negra (talvez fossem arbustos). Pela primeira vez, sentiu algo novo... algo que não fosse cansaço... seu corpo todo tornara-se leve. Atirou-se, junto de suas últimas esperanças. E lá, segundo contam, se afogou, gritando antes: "Liberdade,Liberdade!"

Gabriel Malheiros
Enviado por Gabriel Malheiros em 23/07/2013
Código do texto: T4401226
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