Os Olhos de Mary
Sua beleza era incontestável. Qualquer um com dois olhos que enxergassem bem e um pouco de cérebro não diria o contrário. Eu a conheci há algum tempo, éramos adolescentes...
Naquela época tudo era bem mais interessante. O mundo parecia girar bem mais rápido ao meu redor, as coisas aconteciam o tempo todo e eu mal podia acompanhar. Eu era um cara tímido e meio sério, não falava com ninguém, mesmo quando era necessário. Mas sempre fui muito observador. Ficava sempre de longe, atento a tudo e a todos que me cercavam.
Um belo dia eu a vi. Seu nome era Mary, ou pelo menos era assim que seus amigos a chamavam. Era uma garota realmente linda, diferente de todas as garotas bonitas que eu já tinha visto. Seus olhos eram uma rara mescla de sinceridade e pureza com uma sensualidade feroz. Era uma garota realmente incrível a fascinante em todos os aspectos. O modo como ela mudava seu espírito de acordo com a roupa que usava era fantástico; hora era uma simples e delicada jovem, hora era a mais perfeita combinação de natureza e voracidade humana, como se uma fera pudesse tomar conta de seu corpo a qualquer momento.
Não me lembro ao certo como nos conhecemos,(acho que foi através de amigos em comum.) mas rapidamente nos tornamos bons amigos. Conversávamos muito, mas, mesmo assim, aquela garota ainda era um agradável mistério. Às vezes, bastava olhar em seus olhos para entender tudo que se passava em seu interior, outras, ela se fechava dentro de si e nada podia ser visto através de seus olhos a não ser o brilho mágico e acolhedor que encantava a todos.
Às vezes eu me perguntava: “o que ela pensava? O que sentia? Qual sua opinião sobre determinados assuntos?”. Mas se sua mente era assim tão impenetrável o que dizer de seu coração?
Mary sempre foi muito fechada em relação aos seus sentimentos. Mas acho que eu sempre soube que ela escondia alguma coisa. Algo que afligia seu nobre coração. Era difícil de acreditar que alguma coisa ou alguém pudesse afetar tão intimamente alguém tão cheia de vida e personalidade forte como ela.
Certa vez Mary nos convidou para comemorarmos o seu aniversário. Como bom amigo, marquei presença em sua festa. Eu realmente gostava de sua companhia e do seu bom dialogo. Depois de muitas risadas e conversas jogadas fora, era hora de irmos embora, mas a bela Mary parecia triste. Seus olhos expressavam mágoa e angústia, algo que eu nunca tinha percebido nela antes.
Nos despedimos da aniversariante e, a cada abraço, a cada beijo de despedida, ela parecia pedir que ficássemos mais um pouco. O que havia de errado com ela? Eu não sabia explicar no momento. Então, quando eu já me retirava, olhei uma última vez para traz e vi que Mary estava diferente, seus olhos não eram os mesmos, nem sua expressão facial e corpórea. Naquele momento, percebi que aquela garota, a mesma que me despertou tanta curiosidade e fascínio, agora me deixara perplexo. Pois em tantos anos de amizade, aquela foi a primeira vez que eu vi uma pessoa que para mim, parecia inabalável e forte, se desfazer em lágrimas. Eu que já tinha visto aqueles lindos olhos redondos sorrirem por tantas vezes, não imaginei que pudessem chorar de maneira tão triste.
Na noite seguinte, Mary conversou comigo e abriu seu coração. Entendi, então, sua história e toda a sua dor. Não pensei que ela carregasse todo aquele peso dentro de si. E finalmente, quando pensei que havia desvendado o interior daquela garota, ela me mostrara que sua vida ainda carregava muitos mistérios, e que eu, ainda não estava pronto para desvendá-los ou compreende-los, mas simplesmente aceitá-los da maneira que eram. Percebi também que nunca precisei perguntar-lhe nada, bastava procurar a resposta em seus olhos... Estava tudo lá o tempo todo.