Imperativo da classe média
Acorda-se de manhã com o despertador gritando evidenciando a hora de sair e veste-se a roupa adequada. Toma-se café da manhã como o esperado padrão de dieta saudável: iogurte, fruta e pão integral. Porém não há mais tempo, agarra-se o jornal diário e vai comendo no caminho correndo para não perder o ônibus. Para não perder o tempo da viagem lê-se para ficar por dentro do que está acontecendo no país apenas porque precisa-se. Caso olhe pela janela, engole-se propaganda muitas vezes incompreensíveis em outdoors visando 'consuma'.
Chega-se no trabalho, onde estudou, obedeceu, sofreu para tê-lo. Senta-se na cadeira e começa a produzir. Obedecer o patrão, salário, promoção. Almoça num restaurante qualquer. No fim do mês ganha-se dinheiro, papel colorido com números impressos: uma plaquinha de presidiário, deve-se notar. Dessas notas, mais da metade paga-se ao sistema para continuar a fazer parte dele; com a outra metade compra-se o que os anúncios te induziram, diverte-se em locais que dizem ser legais. Enche-se a cara de bebidas caras para não ter fama de fraco na frente dos amigos, nem passar vergonha na namorada com bebida barata.
Endivida-se parcelando o último lançamento do celular em 15 vezes com o primeiro pagamento daqui a três meses, num cartão da loja que fizeram de graça. Vai dormir mais cedo porque no dia seguinte trabalha-se.
Obedece as leis, as leis de trânsito, não rouba, não mata, paga os impostos, vai à igreja, vota, assiste tv, tem rede social, consome, tem tênis de marca, camiseta da hollister, segue a moda, tem celular, assiste futebol. A esta altura o dever de cidadão estará cumprida.
É muito fácil produz uma pessoa que não pensa.