"SMART PEOPLE"?
SMART PEOPLE
por Juliana Silva Valis
Interessante este início de século XXI: temos cada vez maiores modelos de "smartphones", "smart TVs", "smart cars", "smart computers", smart "isso", smart "aquilo", mas onde estarão, meus amigos e amigas, a necessária variedade de "smart people" (pessoas inteligentes) ?
A grande questão, neste nosso confuso "smart world" de consumo, é que não se vendem atributos como inteligência, bondade, educação, alegria, amor, disciplina, caráter, altruísmo e gentileza (entre inúmeras outras qualidades), em qualquer "Wall Mart" ou supermercado da vida, seja no atacado ou no varejo, à vista ou a prazo, em boleto bancário ou com parcelamentos inúmeros em cartões de crédito. O grande perigo dessa era digital é pensar a vida em termos de muita aparência e pouca essência, supervalorizando produtos em detrimento das pessoas ou, pior, tratando-se sujeitos como objetos e vice-versa. Assim, supervaloriza-se o que passa em prejuízo do que fica, com o intuito econômico de sempre induzir o consumo das pessoas, com a ilusão transitória de que elas podem preencher vazios existenciais com produtos, roupas, cirurgias plásticas e objetos descartáveis. O espírito do consumismo é a compra, a alta rotatividade de produtos, a rapidez dos atos e a própria ausência de maiores questionamentos. Em síntese, os indivíduos, cada vez mais, consumem e "se" consumem, descartando-se com uma incerteza que beira a uma paranoia de insatisfação coletiva (contínua, constante e resistente).
Mas, apenas em um filme de ficção de científica, talvez, poderíamos comprar felicidade pela internet, com garantia de muitos anos, com entrega via delivery. Na vida real, o máximo até agora que temos são antidepressivos, constantemente reformulados pela bilionária indústria farmacêutica. Em telas digitais 3D, seja em casa ou nos melhores cinemas, podemos ver projetadas inúmeras alegrias efêmeras, aparências agradáveis, prazeres subjetivos, jogos de quaisquer esportes, brilhantes efeitos especiais de histórias de super-heróis, entre outras infinitas ilusões sobre a existência humana, o tempo, os sentimentos ou qualquer coisa, mas "o sentido" que permeia isso tudo, quando o "show" acaba, parece escapar num piscar de olhos.
Afinal, a tecnologia continuará progredindo, mas se não tivermos, em nós mesmos, um ponto de equilíbrio humano, uma consciência sobre o que somos e o que queremos, de fato, o que seremos senão marionetes, robôs ou fantoches nas mãos do mercado de consumo? Continuaremos desgastando a natureza apenas para manter prazeres efêmeros, produtos descartáveis, padrões estéticos, desigualdades econômicas, injustiças sociais e produção em massa? Amigos, isso é algo que precisamos refletir com muito cuidado, considerando o que queremos para o presente e o futuro de nossa própria existência como "seres realmente humanos", que vivam além de aparências. Ou, será, que "teremos" cada vez mais "smartphones", "smart TVs", "smart cars", smart "qualquer coisa", e "seremos", cada vez menos, "smart people" ?
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"A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espetacular, ela é
fundamentalmente espetaculista. O espetáculo
não quer chegar a outra coisa senão a si
mesmo(...). Na forma do indispensável adorno dos
objetos hoje produzidos, na forma da exposição
geral da racionalidade do sistema, e na forma
de setor econômico avançado que modela
diretamente uma multidão crescente de
imagens-objetos, o espetáculo é a principal
produção da sociedade atual."
Citação acima de Guy Debord, escritor francês (1931 - 1994), autor do livro "A sociedade do espetáculo", uma excelente obra que analisa, de modo racional, pragmático e crítico, vários aspectos da sociedade contemporânea.
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