DIÁLOGO À EXAUSTÃO

Eu nem sempre tenho tempo livre pra bater papo – a não ser com os colegas escritores – os quais têm usualmente um universo amplo, com várias nuanças sobre os fatos ocorrentes na vida. Não tenho tal disponibilidade, mas, por vezes, sinto alguém em agonia de palavra, e então procuro dialogar até a exaustão... Agradam-me os atos em presença dos meus afetos costumeiros ou de ocasião. É este o meu modo de ver o mundo. Nas redes sociais, pouco revelo sobre intimidades. Entendo que é assunto para diálogos presenciais. Sou um homem público – um escritor – que trata também por lá, parcela dos assuntos de seu ofício. Sei que nem todos os leitores têm este perfil de apego à cultura e contumaz leitura, mas a presença ou não na página é uma questão de gosto, o que respeito com alegria e de todo o coração... Cumpro a minha dimensão humana: obsequiar o meu irmão – o próximo e o nem tão próximo – com o que posso oferecer. E eu só tenho a humilde palavra como oferta, e que pode ou não vir a ser útil. Enfim, nem mesmo sei se escrevo alguma coisa que possa ser fruída prazerosamente, mas, por certo, não sou daqueles que fazem ficção a todo tempo. Bem, o juízo estético é do receptor. A palavra é o meu esconderijo...

– Do livro A FABRICAÇÃO DO REAL, 2013.

http://www.recantodasletras.com.br/cronicas/4400563